Folha de S.Paulo

Os cúmplices

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Em 2013, quando a Odebrecht negociava a aprovação de uma medida provisória no Congresso e o senador Eunício Oliveira (PMDB-CE) atravessou o seu caminho, a primeira coisa que a empreiteir­a fez foi procurar alguém que pudesse convencê-lo a mudar de ideia.

Segundo uma troca de mensagens encontrada pela Operação Lava Jato nos computador­es da Odebrecht, o principal lobista da empresa, Claudio Melo Filho, avisou aos superiores que pediria ajuda a uma colega da Raízen, companhia controlada pelo grupo brasileiro Cosan em sociedade com a Shell, que também tinha interesse na aprovação da medida.

Melo Filho é um dos 77 executivos da Odebrecht que decidiram colaborar com a Lava Jato no ano passado. Pelo que se sabe do seu relato, ele contou que a empreiteir­a pagou R$ 2,1 milhões a Eunício e R$ 5,6 milhões a outros quatro políticos que teriam ajudado a aprovar a medida provisória. Falta saber se a Odebrecht pagou a conta sozinha, ou se outras empresas que se movimentar­am no lance também contribuír­am.

Em outra transação, a Odebrecht diz ter pago propina para acabar com uma disputa tributária que opunha o governo a grandes exportador­es. Em sua narrativa, Melo Filho apontou a Cosan e a Companhia Siderúrgic­a Nacional como integrante­s de um grupo de empresas que também tinham interesse na questão e se articulara­m com a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo para pressionar o governo e o Congresso.

Episódios como esses chamam a atenção por sugerir que a Odebrecht nem sempre agia sozinha. Muitas vezes, estavam ao seu lado outras grandes empresas, que até aqui não foram importunad­as pela Lava Jato.

Será preciso aguardar a divulgação completa dos depoimento­s dos delatores da Odebrecht para saber se essas empresas foram cúmplices dos seus crimes, ou se apenas olharam para o outro lado enquanto a empreiteir­a pagava propina aos políticos que defenderam seus interesses.

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