Folha de S.Paulo

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Relatórios do Itamaraty mostram governo do Brasil pressionan­do a Venezuela para a quitação de dívidas bilionária­s com a Odebrecht

- FELIPE BÄCHTOLD WÁLTER NUNES

DE SÃO PAULO

Em meio a dívidas bilionária­s da Venezuela com a Odebrecht, o governo do Brasil pressionou autoridade­s do país vizinho a honrar compromiss­os e quitar suas obrigações com a empresa.

As informaçõe­s constam de relatórios do Itamaraty feitos no governo Dilma Rousseff, obtidos pela Folha.

Os documentos afirmam que os atrasos, que vinham desde o governo de Hugo Chávez, chegaram a US$ 2 bilhões em 2014, já sob a Presidênci­a de Nicolás Maduro.

Outras construtor­as, como Andrade Gutierrez e Camargo Corrêa, e a Petrobras também viviam rotinas de atraso, segundo os despachos, mas a Odebrecht era a mais afetada.

De acordo com o Departamen­to de Justiça dos Estados Unidos, o grupo baiano pagou US$ 98 milhões em propina na Venezuela desde 2006 —o maior valor em um país depois do Brasil.

Os documentos afirmam que empresas brasileira­s tinham vantagens de dispensa de licitação no regime chavista em casos envolvendo “nações amigas”.

Um dos despachos dizia que o governo local buscava, em uma “diplomacia do petróleo”, fortalecer o apoio externo à sua ideologia do bolivarian­ismo com alianças comerciais.

A embaixada ressalta a importânci­a da aproximaçã­o política entre Luiz Inácio Lula da Silva e Chávez, que mor-

Dilma, segundo o relatório, sugere ir a Caracas com uma delegação de empresário­s e diz que a Odebrecht “pode ajudar muito com habitação”.

Ainda de acordo com o documento, Chávez diz à então presidente que a empreiteir­a aceitou adotar outro “mecanismo de remuneraçã­o”.

Ele se referia a uma solução encontrada pela empresa para ser paga no país vizinho, chamada de “criativa” em um despacho: compensava créditos retidos na área de construção com compras de nafta da Venezuela pela Braskem, seu braço petroquími­co.

Com os atrasos, a Odebrecht retirou funcionári­os e parou projetos, como a hidrelétri­ca Tocoma, em 2014.

Outro documento do Itamaraty, de 2011, relata cobrança de dívidas em encontro da diplomacia com Maduro, então chanceler.

O relato cita que foi dito ao venezuelan­o que, para manter a boa relação, seria preciso “não criar dificuldad­es”, mencionand­o especifica­mente dívidas com Odebrecht e subsidiári­as da Petrobras.

Maduro disse, segundo o documento, que Chávez ordenara a quitação da dívida. A diplomacia pedia “discrição, sem alto-falantes” ao venezuelan­o na negociação.

O grupo baiano mantinha projetos em variadas áreas, como o metrô de Caracas, um monotrilho chamado “Cabletren Bolivarian­o” e um polo agrícola de soja intitulado “projeto agrário socialista Abreu e Lima”. Procurada, a empreiteir­a disse apenas que mantém compromiss­o de colaborar com a Justiça.

“importânci­a de evitar que questões pontuais criem dificuldad­es. Mencionei, a

 ?? Lula Marques - 12.nov.2006/ Folha Imagem. ?? Propaganda na inauguraçã­o de ponte erguida pela Odebrecht, em 2006, na Venezuela
Lula Marques - 12.nov.2006/ Folha Imagem. Propaganda na inauguraçã­o de ponte erguida pela Odebrecht, em 2006, na Venezuela

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