Rússia diminui ação na Síria com retirada de porta-aviões
Anúncio de redução da presença militar ocorre logo após retomada de Aleppo e trégua entre regime e rebeldes
Para analista, porém, Moscou não deve fazer saída rápida de tropas enquanto negociação de paz continuar incerta
O governo da Rússia anunciou nesta sexta-feira (6) que começou a reduzir sua presença militar na Síria, com a retirada de seu porta-aviões da região do conflito.
De acordo com o general Valery Gerasimov, chefe do Estado-Maior russo, o portaaviões Almirante Kuznetsov e embarcações que o acompanham serão os primeiros a deixarem o cenário de guerra sírio.
“Em conformidade com a decisão do supremo comandante-em-chefe [presidente] Vladimir Putin, o Ministério da Defesa começa a reduzir o agrupamento das Forças Armadas na Síria”, afirmou Gerasimov à agência de notícias russa Tass.
Moscou é o principal aliado do ditador sírio, Bashar alAssad, na guerra civil que consome o país do Oriente Médio há quase seis anos.
A Rússia não informou mais detalhes sobre a retirada, que segue ordem de Pu- tin dada em 29 de dezembro.
A retomada da cidade de Aleppo —segunda maior da Síria e até então o bastião dos rebeldes contra Assad— pelas forças do regime, em dezembro, e o cessar-fogo acordado entre Rússia e Turquia, ativo há quase uma semana, permitiram que Moscou começasse a ensaiar uma retirada militar.
O cessar-fogo atualmente em vigor pode pavimentar o caminho para negociações de paz entre Assad e os grupos rebeldes em Astana, capital do Cazaquistão, que começam a partir do próximo dia 23 . Alguns grupos, porém, já suspenderam as conversas com o regime.
Os ataques aéreos conduzidos a partir do porta-aviões Almirante Kuzetsov começaram em novembro passado —
ALEXANDER GOLTS
analista militar russo foi a primeira vez que o navio foi usado em combate.
Duas de suas aeronaves foram perdidas: um caça Su-33 que caiu no mar Mediterrâneo em dezembro quando voltava de um bombardeio; e um MiG-29 que caiu no mar depois de tentar pousar no porta-aviões. FUTURO DAS OPERAÇÕES Apesar do anúncio desta sexta (6), a presença militar da Rússia em território sírio deve continuar considerável no médio prazo.
O país mantém uma base naval em Tartus e outra aérea perto de Latakia, de onde partiu a maioria dos bombardeios, que mataram cerca de 6.000 militantes rebeldes e 4.700 civis, de acordo com o Observatório Sírio dos Direitos Humanos.
Além disso, estima-se que haja ainda na Síria cerca de 4.500 militares russos.
Como país-garantidor do cessar-fogo, a Rússia dificilmente fará uma retirada expressiva do contingente enquanto as negociações de paz continuarem incertas.
Para o analista militar russo Alexander Golts, a saída do porta-aviões Almirante Kuznetsov não representa uma mudança crucial.
“O navio e suas embarcações auxiliares não desempenharam um papel importante no conflito. Na verdade, foram enviados mais para Moscou demonstrar poderio militar”, afirmou.
A Rússia também manterá uma frota de dez embarcações em um ponto do Mediterrâneo para uma emergência, de acordo com Andrei Krasov, chefe-adjunto do Comitê de Defesa do Parlamento russo.
O impacto da gradual saída russa na Síria ainda é incerto diante dos confrontos que o regime de Assad terá de empreender para retomar o controle integral do país.
O provável próximo front é Idlib, província a oeste de Aleppo ainda quase totalmente nas mãos de rebeldes. Idlib faz fronteira com a Turquia, que tem sido uma espécie de retaguarda para os rebeldes, permitindo a passagem de tropas e armas.
Há, ainda, as regiões sírias sob comando da facção terrorista Estado Islâmico.
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O porta-aviões não desempenhou um papel importante no conflito. Foi enviado mais para demonstrar poderio militar