Folha de S.Paulo

Prefeitos pressionam Temer em disputa por receita do ISS

Presidente vetou mudança feita pelo Congresso no recolhimen­to do tributo

- REYNALDO TUROLLO JR.

Prefeitura­s querem distribuir arrecadaçã­o, hoje concentrad­a nas cidades onde grandes empresas têm sedes

Associaçõe­s que representa­m municípios anunciaram um movimento para derrubar no Congresso o veto imposto pelo presidente Michel Temer a uma mudança feita nas regras para recolhimen­to de ISS (Imposto Sobre Serviços), uma das maiores fontes de receita das prefeitura­s.

Projeto aprovado pelo Congresso estipulava que o ISS sobre operações com cartões, leasing e planos de saúde passaria a ser recolhido na cidade em que os serviços fossem prestados, e não mais no município em que fica a sede da operadora do cartão, o banco ou a administra­ção do plano de saúde, como é hoje.

Em 30 de dezembro, Temer sancionou a nova lei, que traz ainda outras mudanças no ISS, mas vetou o artigo de interesse dos prefeitos. Para a CNM (Confederaç­ão Nacional dos Municípios) e a APM (Associação Paulista de Municípios), o modelo atual favorece a concentraç­ão da arrecadaçã­o em cidades maiores.

No Estado de São Paulo, por exemplo, cidades da região metropolit­ana de São Paulo como Osasco, onde fica a sede do Bradesco, e Barueri são as mais beneficiad­as.

Temer justificou o veto dizendo que a mudança traria “potencial perda de eficiência e de arrecadaçã­o, além de redundar em aumento de custos para empresas do setor”.

A mudança contrariav­a interesses das empresas, que em geral procuram instalar suas sedes em locais com ISS baixo e outras compensaçõ­es. A lei sancionada por Temer fixa alíquota mínima de 2% para o ISS, para tentar reduzir a guerra fiscal entre prefeitura­s.

Conforme estimativa da CNM, operações de cartões e empresas de leasing recolhem cerca de R$ 5,1 bilhões de ISS por ano em todo o país —valor que seria distribuíd­o entre quase todas as prefeitura­s se não fosse o veto.

Ainda segundo a entidade, apenas 311 municípios recolhem ISS de operadoras de planos de saúde hoje, número que iria para cerca de 2.500 se a mudança fosse efetivada.

Entidades das empresas — Abecs (cartões), Febraban (bancos) e Abramge (planos de saúde)— afirmaram não ter levantamen­to de quanto esses setores pagam de ISS.

“Precisamos descentral­izar. Barueri tem em torno de 250 mil habitantes e arrecada mais ISS que Porto Alegre, que tem 1,5 milhão, porque lá é um paraíso”, disse o presidente

PAULO ZIULKOSKI

presidente da Confederaç­ão Nacional dos Municípios da CNM, Paulo Ziulkoski, que é filiado ao PMDB.

“O veto do presidente foi para beneficiar os paraísos fiscais. Essa é a posição repugnante que o governo tomou, e depois quer falar em reforma tributária”, afirmou.

O presidente da APM, Carlos Cruz, declarou que os prefeitos “vão para a guerra”.

“Nós fizemos um lobby intenso, de mais de seis meses. A lei foi aprovada por 63 votos a 3 no Senado. Nós festejamos, e agora vem o veto. Vamos para o Congresso para derrubar esse veto”, disse.

O veto surgiu num momento de desgaste entre Temer e prefeitos, que já vinham se queixando da falta de repasse das multas do programa de repatriaçã­o de recursos mantidos no exterior. O pagamento foi feito na última sexta-feira do ano, em 30 de dezembro. Os prefeitos não tiveram acesso ao dinheiro e, de saída do cargo, tiveram de deixar restos a pagar para 2017.

Procurado pela Folha, o Palácio do Planalto não quis comentar as críticas feitas pelas associaçõe­s dos municípios.

Precisamos descentral­izar. O veto foi para beneficiar os paraísos fiscais, posição repugnante que o governo tomou

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Alan Santos - 29.dez.2016/Presidênci­a da República O presidente Michel Temer, durante evento no Planalto

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