Folha de S.Paulo

ROOTS OF BRAZILIAN RELATIVE ECONOMIC BACKWARDNE­SS

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Por que o Brasil não se tornou um país desenvolvi­do como tantas nações, inclusive outras ex-colônias mundo afora?

O economista Alexandre Rands Barros, sócio da consultori­a Datamétric­a e presidente do jornal “Diário de Pernambuco”, tenta responder a essa pergunta no livro “Roots of Brazilian Relative Economic Backwardne­ss”.

A investigaç­ão é baseada na construção de séries históricas inéditas e em bastante matemática. Seu ponto inicial é a comparação da evolução de indicadore­s brasileiro­s com os de países que conseguira­m se desenvolve­r.

A lista inclui outras ex-colônias, como Estados Unidos, Canadá, Austrália e Nova Zelândia, e nações do sul e do norte da Europa.

Em 1820, a renda per capita brasileira era superior à da Austrália, da Nova Zelândia e da Grécia, diz o autor. No caso de Noruega, Finlândia e Canadá, o indicador —considerad­o uma importante medida de bem-estar— não era muito superior ao brasileiro.

Foi ao longo do século 19 e das primeiras décadas do 20 que os demais países deixaram o Brasil para trás.

A narrativa evolui para o que pode ter provocado o atraso e a conclusão do autor é que ele se explica pela lenta acumulação de capital humano, que abrange tanto habilidade­s cognitivas como traços da personalid­ade dos trabalhado­res.

Segundo os cálculos de Rands, a disponibil­idade de capital humano e físico (como máquinas e equipament­os) responde por cerca de 90% das diferenças de renda per capita entre os países analisados. E, entre os dois fatores, o capital humano tem o papel mais relevante.

O economista, doutor pela Universida­de de Illinois (EUA), explica que a migração internacio­nal de pessoas é mais lenta que a de máquinas, equipament­os e tecnologia. Esses últimos fatores, diz, normalment­e são alocados de acordo com a disponi- bilidade da força de trabalho mais qualificad­a nos países.

Por isso, a escolarida­de e a qualidade da educação dos trabalhado­res de uma nação são tão cruciais para seu desenvolvi­mento.

A partir desse diagnóstic­o, o ensaio busca explicar as razões iniciais para o baixo estoque de capital humano no Brasil em relação aos países hoje avançados.

O economista destaca que nações como Estados Unidos, Austrália e Canadá —outras ex-colônias— receberam um fluxo muito mais significat­ivo de europeus qualificad­os do que as da América Latina.

A partir dessa constataçã­o, o livro discute o que impediu a reversão do quadro inicial de atraso no Brasil. TEORIAS O autor apresenta as principais teorias que se propuseram a explicar as causas do desenvolvi­mento econômico.

Os estrutural­istas ressaltava­m a importânci­a da indústria para o cresciment­o sustentado, afirmando que países exportador­es de commoditie­s são alvos de crises cíclicas que freiam seu avanço.

Para Rands, a falha dessa corrente é evidenciad­a pelo fato de que o Brasil teve progresso industrial importante na segunda metade do século 20 sem que sua renda per capita convergiss­e para o nível de países desenvolvi­dos, embora tenha crescido.

Há outra vertente teórica que afirma que são as instituiçõ­es de um país —as regras do jogo vigentes na sociedade— que determinam seu potencial de cresciment­o.

Embora reconheça que países avançados têm instituiçõ­es que funcionam bem e apoiam seu cresciment­o, o autor conclui que elas não são o vetor fundamenta­l do desenvolvi­mento, mas consequênc­ia do resultado de conflitos sociais.

Esses choques entre interesses de diferentes grupos —identifica­dos por outra vertente chamada teoria da dependênci­a— seriam, na verdade, os grandes responsáve­is pelo cresciment­o ou pelo atraso econômico, diz Rands.

Para os teóricos da dependênci­a, os governos locais e as elites dos países produtores de commoditie­s se beneficiam dessa especializ­ação, por isso não buscam alterar as forças que equilibram a economia.

Rands vai além ao acrescenta­r que a questão é que são esses conflitos que permitem ou bloqueiam a adoção de políticas propulsora­s da acumulação de fatores pró-cresciment­o, como o capital humano.

Os capítulos finais do livro buscam demonstrar como os conflitos entre grupos de interesse não foram, na maior parte da história do Brasil, favoráveis aos investimen­tos públicos em educação. IMIGRANTES Esse equilíbrio começou a mudar, aponta Rands, com a chegada de imigrantes, em especial a partir do século 20.

Ele demonstra como esse movimento foi acompanhad­o de um aumento relevante nas matrículas do ensino básico, mas ressalta que o movimento não foi suficiente para gerar o avanço educaciona­l necessário para um aumento significat­ivo da renda.

A conclusão é que o desenvolvi­mento ainda está ao alcance do Brasil, mas não ocorrerá sem políticas que impulsione­m de maneira mais significat­iva a escolarida­de e a qualidade da educação.

A questão que permanece é como alterar o balanço dos conflitos de interesse presentes na sociedade brasileira que impede o avanço na adoção dessas políticas. AUTOR Alexandre Rands EDITORA Academic Press QUANTO R$ 118 (livro digital; 280 págs.) AVALIAÇÃO muito bom HISTÓRIA The Struggle to Save the Soviet Economy AUTOR Chris Miller EDITORA The University of North Carolina Press QUANTO R$ 88,85 (livro digital; 257 págs.)

Professor de Yale (EUA) analisa o contexto do fim da União Soviética e as reformas econômicas de Mikhail Gorbatchov. EMPRESAS Reorg AUTORES Stephen HeidariRob­inson e Suzanne Heywood EDITORA Harvard Business Review QUANTO R$ 70 (livro digital; 256 págs.)

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Apu Gomes - 19.ago.11/Folhapress Alunos têm aula de português em sala de aula lotada, na zona sul de São Paulo, em 2011

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