Ano passado. Isso significa que vamos voltar às taxas de crescimento que já tivemos anos atrás? Ainda não.
Folha - Michel Temer começa o ano com a economia ainda patinando e baixíssima popularidade. O que fazer para o governo sair do atoleiro?
Moreira Franco - Antes de Temer assumir a Presidência, no documento “Ponte para o Futuro” [do PMDB], já falávamos da profundidade da crise e da devastação que a economia sofreu no governo Dilma. Dizíamos que o problema não seriaresolvidonumprazocurto porque era uma questão fiscal e não inflacionária. Quando é inflacionária, mecanismospermitemrespostas, inclusive de popularidade, mais rápidas. O presidente se incomoda com a baixa popularidade?
Nãoéconfortável.Umamulher que se acha bonita e é achada bonita pelos outros temumavidamuitomaisconfortável do que a que não se acha bonita ou a que não é considerada bonita. Temer sabe que se, ao final do governo, colocar a economia em ordem, terá reconhecimento. Fala-se de mais medidas para a microeconomia e concessões em infraestrutura. Quais serão as novidades?
Sobre concessão, fizemos mudanças regulatórias e criamos maior concorrência para um ambiente de segurança jurídica, com previsibilidade. É preciso criar um ambiente de negócios adequado para que as pessoas tenham confiança para investir. Mas haverá novas medidas?
Sim. Não só na área financeira, mas na de tecnologia, inovação e educação para aumentar a produtividade. São medidas de impacto no bolso das pessoas, no ambiente da economiaenoacessoatecnologias. Enfrentaremos reformas na microeconomia com a determinação com que enfrentamos a questão fiscal. Partidos do centrão reclamam do apoio do governo à reeleição de Rodrigo Maia (DEM-RJ) ao comando da Câmara. Ele é o candidato de Temer?
O governo não tem candidato. Mas é claro que tem reflexo na relação com o Executivo o nome que for escolhido para a Câmara e o Senado... Por isso Temer tem articulado para desmobilizar possíveis candidaturas contra Maia?
Temer não está fazendo essa costura, mas o ideal seria que tivéssemos uma única candidatura [da base]. Acho que a dispersão eleitoral sempre deixa sequelas. Estamos vivendo um momento delicado na área econômica e é necessário um esforço para respeitar o que nos ensinou [o poeta]FernandoPessoaquando disse que “o essencial é o que vale a pena”. Com uma pauta de reformas importantes a ser votada no Congresso, não é ruim ter focos de insatisfação na base?
A disputa política tem que ser resolvida no Parlamento, que tem instrumentos para isso, como o critério que, infelizmente, foi rasgado no passado de a presidência [da Câmara ou do Senado] ser do partido que teve o maior número de votos, as comissões e a composição da Mesa seguirem a proporcionalidade... Nesse critério Maia, do DEM, não seria o presidente. Temer foi citado pelo menos três vezes nas delações da Odebrecht por supostas práticas ilícitas. Afeta o governo?
Não devemos temer esse processo que é extremamente saudável para as instituições políticas e econômicas, pela repercussão empresarial que terá. As investigações não afetaram a estabilidade institucional do país. Ministros perdem cargos e políticos são presos. Isso não gera instabilidade?
Claro. Se as questões envolvessem pessoas que não fossem grandes empresários, agentespolíticosdeexpressão e partidos de representatividade, nada disso geraria a tensão político-institucional. A citação a Temer pelo ex-executivo da Odebrecht Márcio Faria não se refere a possível caixa dois, mas à suposta doação eleitoral em troca de favorecimento para a empreiteira em contratos da Petrobras. Não é uma acusação grave?
É uma acusação de uma empresa que se organizou para o crime. Estamos vendo hoje que essa empresa era uma organização criminosa, e não era só no Brasil, mas no mundo. Uma dessas pessoas que praticaram crime disse isso [sobre Temer]. Temos mecanismos legais que permitem apurarseissoéverdade,eisso ainda não é verdade. Eduardo Cunha (PMDB-RJ) enviou uma série de perguntas a Temer quando o arrolou como sua testemunha de defesa na Lava Jato. Cunha quer constranger o presidente?
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É uma acusação de uma empresa [Odebrecht] que se organizou para o crime. Temos mecanismos legais que permitem apurar se isso é verdade ou não e isso ainda não é verdade