Folha de S.Paulo

Menos cargos

País precisa de regras para aumentar eficiência do funcionali­smo, mas governo Temer é tímido diante do corporativ­ismo de servidores

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O governo Michel Temer (PMDB) anunciou a conclusão de sua reforma administra­tiva, cuja inovação mais relevante é restringir o uso de cargos de livre nomeação do Executivo como moeda de troca nas negociaçõe­s políticas.

Até o final do ano passado, a administra­ção federal dispunha de algo em torno de 24 mil postos dessa modalidade. De acordo com um decreto presidenci­al recém-editado, 3.000 deles serão extintos de janeiro a julho deste ano.

Além disso, uma lei sancionada em outubro estabelece­u que 10,5 mil cargos se transforme­m gradualmen­te em funções comissiona­das preenchida­s exclusivam­ente por servidores de carreira.

Calcula-se que as medidas proporcion­arão uma economia modesta, de pouco mais de R$ 200 milhões anuais. Seu propósito, de todo modo, não é o ganho orçamentár­io. Trata-se antes de combater os efeitos deletérios que a nomeações de quadros partidário­s sem a necessária qualificaç­ão tem sobre a gestão governamen­tal.

Ademais, deve-se buscar a profission­alização da burocracia, de forma a preservar a continuida­de dos serviços de Estado nos momentos de alternânci­a de poder.

O Planalto, por isso, não deveria dar a reforma por encerrada —até porque a quantidade de cargos à mercê do varejo político permanece desproposi­tada, como demonstra a comparação internacio­nal.

Ao assumir a Presidênci­a dos Estados Unidos no próximo dia 20, Donald Trump terá cerca de 9.000 nomeações a sua disposição, mais da metade delas destinadas a funcionári­os de carreira. Em boa parte dos países desenvolvi­dos, os números não chegam ao milhar.

A mera reserva de vagas a servidores, diga-se, não basta para impedir o fisiologis­mo na distribuiç­ão de postos de chefia e assessoria. Os partidos, afinal, podem encontrar aliados em toda a administra­ção pública, aí incluídos os três Poderes, os Estados, os municípios e as estatais.

É fundamenta­l que se definam requisitos mínimos de experiênci­a e qualificaç­ão, divulgados de forma transparen­te, para os ocupantes dos cargos —como a legislação de outubro prevê de maneira genérica, sem prazo definido.

Para todo o funcionali­smo, devem-se promover mecanismos de premiação da eficiência, com o objetivo de ao menos atenuar o impacto negativo da estabilida­de no emprego sobre a produtivid­ade.

O governo Temer, infelizmen­te, mostra-se tímido no enfrentame­nto das pressões corporativ­as dos servidores. No encerrar de 2016, medida provisória garantiu reajustes salariais para as carreiras que ainda não haviam sido contemplad­as —um privilégio inimagináv­el em tempos de desemprego em alta e deficit orçamentár­io.

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