Folha de S.Paulo

O prefeito gourmet

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SÃO PAULO - Onde João Doria será mais popular daqui a quatro anos: Jardim Europa ou Baixada do Glicério? A escolha de prioridade­s é agora.

Haddad assistiu à multiplica­ção das invasões de prédios insalubres e da população dormindo na rua. Mas sua secretaria de Habitação e a Cohab foram confiadas ao PP de Maluf por três longos anos. Entregou menos de um quarto dos apartament­os prometidos, em performanc­e similar às de Pitta e de Kassab.

Haddad inaugurou um único CEU, projetado por Ruy Ohtake (Marta fez 21 dessas superescol­as; Serra e Kassab, em oito anos, 24). A expansão do ensino em tempo integral só alcançou 16 mil dos 900 mil alunos da rede. A meta era 100 mil.

Quantidade não é tudo. Gabriel Chalita, o guru da autoajuda revelado por Alckmin, foi seu secretário de Educação. Haddad ainda criou um curso universitá­rio à distância, o “UniCEU” —as elites privilegia­m o ensino superior em detrimento do fundamenta­l desde Dom Pedro 1º.

Os milhares de empregos que seriam gerados pelo Arco do Futuro ficaram na promessa. Enquanto só falava de mobilidade, as filas nas unidades de saúde eram dignas do Maranhão.

Verdade que o ex-prefeito foi muito prejudicad­o por Dilma Rousseff, mais generosa com o PMDB carioca que com o correligio­nário honesto. Mas resultados pesam mais que boas intenções. Dos 8,9 milhões de eleitores da capital, só 967 mil (11%) votaram no petista.

A burguesia que não necessita de educação, saúde ou moradia públicas, e que consegue ir trabalhar de bike, tinha outras predileçõe­s: ciclovias de Jilmar Tatto, grafites nos Arcos do Jânio, Parque Augusta, TV e rádio municipais, SPCine e um minúsculo projeto de agricultur­a em Parelheiro­s. Para essa elite, Haddad foi “o melhor da história”.

Um prefeito não pode se dedicar só a bonsais enquanto a floresta arde. A periferia não perdoou a gestão gourmetiza­da. Até Doria pode olhar mais pelo povão.

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