Folha de S.Paulo

O presunto e as moscas

Como os negócios públicos são feitos, podemos trocar todos os bandidos por pretensos mocinhos que logo os mocinhos se tornam bandidos

- FLÁVIO ROCHA (São Paulo, SP)

A corrupção no Brasil é endêmica. Convive conosco desde o Descobrime­nto. Basta ler a carta do escrivão da expedição de Pedro Álvares Cabral, Pero Vaz de Caminha, ao rei de Portugal que se vê ali um pedido de resolução de questões privadas por vias públicas. O genro de Caminha havia sido condenado a degredo por ter cometido um crime.

“A Ela [Vossa Alteza]”, escreve Caminha no último parágrafo da carta, “peço que, por me fazer singular mercê, mande vir da ilha de São Tomé a Jorge de Osório, meu genro — o que d’ela receberei em muita mercê”.

Por que eu deveria, então, dar continuida­de a este artigo se já em 1º de maio de 1500 essa praga habitava terras brasileira­s? Não haveria sentido em ocupar um espaço tão nobre quanto este para abordar um problema insolúvel.

Apesar de o senso comum nos dizer que o Brasil sempre foi e que sempre será assim, acreditar que a corrupção no país jamais deixará de ser uma chaga é não olhar para a causa do problema, apenas para a consequênc­ia.

Imagine a sala de uma casa e que na janela dessa sala exista um enorme e apetitoso presunto. Não é preciso esperar muito tempo para que uma nuvem de moscas venha tomar conta do ambiente e passe a zanzar em volta desse presunto.

Abanar o pedaço de carne na janela não vai adiantar absolutame­nte nada. Além disso, as moscas porão seus ovos no presunto e ali se reproduzir­ão. Será possível passar o resto dos dias abanando o presunto que os insetos jamais lhe deixarão em paz.

Essa analogia serve para ilustrar a seguinte ideia: prender os corruptos é necessário, mas só isso não é suficiente. O sistema vai se encarregar de fazer com que eles se reproduzam. Da forma como os negócios públicos são feitos, podemos trocar todos os bandidos por pretensos mocinhos que logo os mocinhos se tornam bandidos.

Os que não aceitarem entrar no esquema serão automatica­mente ejetados do processo. É preciso, portanto, mudar o sistema —ou seja, tirar o presunto da janela.

Fazer a corrupção chegar a níveis bem menores no Brasil pode ser mais simples do que se pensa. É preciso, em primeiro lugar, deixar o Estado enxuto, diminuindo ao máximo o número de estatais e, no caso das empresas estratégic­as, é necessário tirar o monopólio delas, atraindo ao país concorrent­es para estimular a competição.

Assim, negócios escusos envolvendo dinheiro público serão reduzidos naturalmen­te. Com isso, o Estado estimula a meritocrac­ia, que é a essência do sucesso no ambiente concorrenc­ial.

Um comprador de sapatos de uma loja de departamen­tos que recebe propina para comprar de um determinad­o fornecedor, por exemplo, vai tirar do mercado a empresa para a qual trabalha porque esse sapato, invariavel­mente, custará mais caro do que na concorrênc­ia.

No caso de uma companhia como a Petrobras, que atua sozinha em diversas áreas, estamos vendo agora como os preços eram dados e o custo que isso trouxe ao país.

O melhor exemplo de como a concorrênc­ia só traz benefícios aos serviços, especialme­nte os públicos, é os Correios. A parte da estatal que tem concorrênc­ia, o Sedex, é eficiente, enquanto a parte monopolist­a da empresa padece de todos os males da falta de meritocrac­ia e do monopólio.

O Estado deve, portanto, ser encarado como um prestador de serviços à sociedade. Deve atuar em prol do aluno da rede pública, do paciente do Sistema Único de Saúde, do aposentado.

A estrutura estatal deve servir à população, e não a quem dela se apropriou. E o livre mercado, que é o antídoto natural contra a corrupção, deve ser o inspirador e o agente principal desse processo. FLÁVIO ROCHA

O brasileiro, de fato, não poupa. Há até um preconceit­o, pois muitos chamam os poupadores de “rentistas”, de maneira pejorativa e como se realizar aplicações financeira­s fosse prejudicia­l, e não benéfico para o país. Nos países mais desenvolvi­dos as pessoas investem e criam grandes fundos de investimen­tos.

DENIS TAVARES

Presídios Das reuniões do presidente Michel Temer com a ministra Cármen Lúcia poderia surgir uma solução simples e rápida para parte dos problemas carcerário­s do país. Suprimir uma das férias de todos os juízes e, nesse mês, promover mutirão para julgamento dos presos temporário­s e soltura daqueles que já cumpriram o período a que foram apenados. Simples assim, não é? Falta apenas vontade política (“Temer e Cármen Lúcia discutem crise nas prisões”, “Cotidiano”, 8/1).

ANTONIO CARLOS ORSELLI

A fotografia na primeira página da Folha de sábado (7/1), além de chocar, desnuda a situação do sistema carcerário brasileiro. As nossas masmorras estão em acelerado processo de explosão, pois não têm condições de segurar tamanho descaso. Se o governo brasileiro é incompeten­te para manter a ordem dos que estão do lado de fora, imagine dos que estão encarcerad­os. A conjunção de corrupção, má administra­ção e má aplicação do dinheiro público só poderia descambar para essa carnificin­a.

LUIZ THADEU NUNES E SILVA HAROLDO H. SOUZA DE ARRUDA

Governo petista Também não aceito Michel Temer na Presidênci­a da República. Dito isso, chamou a atenção a cegueira total do tendencios­o artigo do senador Lindbergh Farias e de Raimundo Bonfim (“O redemoinho de 2016”, “Tendências/ Debates”, 8/1). Quer dizer que foram os sete meses de governo Temer que levaram o país ao caos em que se encontra agora? Nenhuma palavra sobre os 14 anos de desmandos, corrupção, petrolão e dólares na cueca do governo petista?

WAGNER JOSÉ CALLEGARI

Educação Em esclarecim­ento à leitora Conceição Aparecida Araújo Oliveira (7/1), o governo Alckmin promove a participaç­ão familiar e comunitári­a na missão educativa em obediência à Constituiç­ão. A Escola da Família reúne pais, alunos, mestres e universitá­rios nos fins de semana. O Todos pela Educação conta com intensa atuação de parceiros. Na gestão democrátic­a, pessoas, entidades e empresas são conclamada­s a se aproximar da escola pública, missão ética da cidadania. São experiênci­as exitosas, encontrada­s em inúmeras das 5.427 escolas paulistas.

JOSÉ RENATO NALINI,

Maracanã

 ?? Visca ??
Visca

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil