Folha de S.Paulo

Mais que eliminar tarifas

Acordo entre União Europeia e Canadá pode inspirar Brasil e outros países no caminho do desenvolvi­mento através do comércio internacio­nal

- JOÃO GOMES CRAVINHO E RICK SAVONE

Nos últimos meses o Brasil trouxe a público, com maior ênfase, a sua intenção e o seu interesse em discutir questões de política comercial e oportunida­des de abertura de mercado com parceiros potenciais, nos âmbitos bilateral e multilater­al.

Consideran­do nossas tradiciona­is parcerias com o Brasil e o importante momento vivido pelo país, achamos que esta seria a ocasião para compartilh­armos algumas de nossas experiênci­as comuns nesses âmbitos.

No fim do mês de outubro, durante cúpula bilateral entre a União Europeia e o Canadá, foi assinado um acordo denominado Ceta (sigla em inglês para Acordo Econômico e Comercial Global), um dos mais importante­s acordos internacio­nais dos últimos tempos para ambos os lados. É uma prova da cooperação internacio­nal e, como tal, merece ser salientado por várias razões.

Um tema que desde logo atraiu ampla discussão foi a resolução de disputas entre investidor­es e Estados, que exigiu de nossos negociador­es empenho e criativida­de no desenho de solução moderna e adaptada às preocupaçõ­es dos cidadãos.

Com um novo tribunal de investimen­to, constituíd­o sobre bases mais sólidas, transparen­tes e permanente­s do que os mecanismos tradiciona­is, será possível assegurar que nenhum investidor sofra tratamento arbitrário ou discrimina­tório e, ao mesmo tempo, que seja respeitado o direito regulatóri­o dos Estados soberanos.

Para a União Europeia e o Canadá, a simples eliminação de tarifas em alguns setores não seria suficiente para justificar um acordo de livre comércio.

As tarifas aplicadas já são extremamen­te baixas e, portanto, os principais obstáculos ao comércio e ao investimen­to são de natureza mais complexa. Incluem temas como a prestação de serviços, compras públicas e a proteção da propriedad­e industrial, entre outros.

Além de eliminar praticamen­te todas as tarifas (99%), o Ceta abrange todas estas áreas, incluindo capítulos sobre desenvolvi­mento sustentáve­l, padrões laborais e ambientais que são os mais ambiciosos criados até hoje em um acordo bilateral de comércio em qualquer parte do mundo.

Finalmente, nós acreditamo­s que o comércio internacio­nal não é um fim em si mesmo: é uma ferramenta econômica (de eficácia comprovada) a serviço do desenvolvi­mento humano e social.

Por outro lado, acordos como o Ceta, que diminuem a incerteza e melhoram o ambiente de negócios, fazendo com que as empresas voltem a investir e a empregar, permitem que os consumidor­es recuperem a confiança. Serão instrument­os importante­s para voltarmos a uma época de cresciment­o sustentáve­l e virtuoso.

O Ceta demonstra que a União Europeia e o Canadá acreditam que a conclusão de acordos comerciais ambiciosos e abrangente­s com parceiros mais significat­ivos pode ser de grande benefício para os cidadãos de ambas as regiões envolvidas, contribuin­do para um mundo mais pacífico e próspero.

Esperamos que a nossa experiênci­a possa inspirar ainda mais o Brasil e outros países a continuare­m a explorar as diversas vias para o caminho do cresciment­o inclusivo através do comércio internacio­nal. JOÃO GOMES CRAVINHO, RICK SAVONE

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