Novos prefeitos põem parentes no governo
Nomeação de familiares envolve grupos tradicionais da política em cidades médias do Norte e do Nordeste do país
Eleito na PB indicou parentes em sete das nove secretarias do município; súmula do STF permite nomeação
Na pequena Montadas, cidade de 5.000 habitantes no agreste da Paraíba, quem tem o sobrenome Souza pode se considerar um felizardo.
Na gestão de Jonas de Souza (PSD), que acaba de tomar posse na prefeitura, sete dos nove secretários têm o mesmo sobrenome do prefeito. Todos parentes: a mulher, três irmãos, um tio e dois primos.
“É meu nome que está em jogo. Busquei pessoas capacitadas em quem eu realmente confio”, justifica Souza.
Assim como ele, outros prefeitos recém-empossados nomearam parentes para assumir secretarias. Por ser considerada uma nomeação política, a prática é permitida, de acordo com súmula do STF (Supremo Tribunal Federal).
As nomeações para a chefia de pastas aconteceram em cidades de médio porte, como Mossoró (RN) e Itabuna (BA), e em municípios menores. E contemplaram sobrenomes tradicionais da política, como os Rosado (RN) e os Donadon (RO).
Ex-governadora do Rio Grande do Norte entre 2011 e 2014, Rosalba Ciarlini Rosado (PP) assumiu a prefeitura de Mossoró nomeando parentes em 4 das 14 secretarias.
Carlos Eduardo Ciarlini Rosado virou secretário-chefe do Gabinete Civil e Lorena Ciarlini Rosado assumiu a pasta de Desenvolvimento Social. Ambos são filhos da prefeita.
Também foram contemplados parentes de outros políticos da família. Lahyre Rosado Neto, filho da ex-deputada Sandra Rosado, prima da prefeita, assumiu a pasta de Desenvolvimento Econômico. Para a Agricultura, foi nomeada Katherine Rosado, mulher do deputado federal Beto Rosado, sobrinho de Rosalba.
Em Rondônia, o clã Donadon vive situação semelhante em Vilhena, com a posse de Rosani Donadon (PMDB), mulher do ex-prefeito Melquisedeque Donadon.
A família ficou conhecida nacionalmente depois de Natan Donadon (então no PMDB), cunhado da nova prefeita, se tornar o primeiro deputado federal preso no exercício do mandato, em 2013. Ele responde por peculato.
O outro cunhado, Marcos Donadon, está foragido da Justiça desde abril de 2016 sob acusação de peculato. Mesmo assim foi um dos principais financiadores da cam- Gabinete Civil Carlos Eduardo Ciarlini Rosado (filho) panha de Rosani, com uma doação de R$ 12 mil.
Ao tomar posse, a prefeita nomeou parentes para 5 das 16 secretarias da sua gestão. Dois deles são irmãos de seu marido: Raquel Donadon assumiu a Educação e Josué Donadon, a secretaria de Obras. Também ganhou uma vaga o irmão da mulher de Marcos Donadon, Rogério Medeiros, na Agricultura.
Outros dois secretários são parentes da própria prefeita: a irmã Ivete Pires assumiu a pasta de Integração Governamental e o sobrinho Sérgio Nakamura, a Fazenda. PROMESSA DE CAMPANHA Outros prefeitos ignoraram as promessas de campanha e colocaram parentes como seus auxiliares. No Maranhão, o novo prefeito da cidade de Caxias, Fábio Gentil (PRB), nomeou a mulher, um irmão e uma prima como secretários. Meses antes, criticou o antecessor por nomear parentes.
“Isso não é legal nem é direito. A prefeitura é do povo e não de uma família só”, disse, na propaganda eleitoral.
O mesmo aconteceu em Santana (AP), onde o prefeito Ofirney Sadala (PSDC), que se elegeu com promessas de moralização, pôs dois irmãos à frente de secretarias.
Na Bahia, o prefeito de Itabuna, Fernando Gomes Oliveira (DEM), seguiu a cartilha: nomeou a mulher Sandra Neilma para a secretaria de Ação Social, o sobrinho Dinailson Gomes para a Administração e o filho Sérgio Oliveira para o Trânsito.
Oliveira não tem experiência em gestão na área. A prefeitura, contudo, informou que contratará um engenheiro de tráfego para o cargo de subsecretário.
Por meio de sua assessoria, Fernando Gomes defendeu as nomeações e disse que, caso a Justiça um dia considere a prática uma ilegalidade, demitirá todos os parentes.
Os prefeitos de Mossoró, Vilhena, Caxias e Santana foram procurados, mas não responderam à reportagem.