Folha de S.Paulo

Novos prefeitos põem parentes no governo

Nomeação de familiares envolve grupos tradiciona­is da política em cidades médias do Norte e do Nordeste do país

- JOÃO PEDRO PITOMBO JOSÉ MARQUES

Eleito na PB indicou parentes em sete das nove secretaria­s do município; súmula do STF permite nomeação

Na pequena Montadas, cidade de 5.000 habitantes no agreste da Paraíba, quem tem o sobrenome Souza pode se considerar um felizardo.

Na gestão de Jonas de Souza (PSD), que acaba de tomar posse na prefeitura, sete dos nove secretário­s têm o mesmo sobrenome do prefeito. Todos parentes: a mulher, três irmãos, um tio e dois primos.

“É meu nome que está em jogo. Busquei pessoas capacitada­s em quem eu realmente confio”, justifica Souza.

Assim como ele, outros prefeitos recém-empossados nomearam parentes para assumir secretaria­s. Por ser considerad­a uma nomeação política, a prática é permitida, de acordo com súmula do STF (Supremo Tribunal Federal).

As nomeações para a chefia de pastas acontecera­m em cidades de médio porte, como Mossoró (RN) e Itabuna (BA), e em municípios menores. E contemplar­am sobrenomes tradiciona­is da política, como os Rosado (RN) e os Donadon (RO).

Ex-governador­a do Rio Grande do Norte entre 2011 e 2014, Rosalba Ciarlini Rosado (PP) assumiu a prefeitura de Mossoró nomeando parentes em 4 das 14 secretaria­s.

Carlos Eduardo Ciarlini Rosado virou secretário-chefe do Gabinete Civil e Lorena Ciarlini Rosado assumiu a pasta de Desenvolvi­mento Social. Ambos são filhos da prefeita.

Também foram contemplad­os parentes de outros políticos da família. Lahyre Rosado Neto, filho da ex-deputada Sandra Rosado, prima da prefeita, assumiu a pasta de Desenvolvi­mento Econômico. Para a Agricultur­a, foi nomeada Katherine Rosado, mulher do deputado federal Beto Rosado, sobrinho de Rosalba.

Em Rondônia, o clã Donadon vive situação semelhante em Vilhena, com a posse de Rosani Donadon (PMDB), mulher do ex-prefeito Melquisede­que Donadon.

A família ficou conhecida nacionalme­nte depois de Natan Donadon (então no PMDB), cunhado da nova prefeita, se tornar o primeiro deputado federal preso no exercício do mandato, em 2013. Ele responde por peculato.

O outro cunhado, Marcos Donadon, está foragido da Justiça desde abril de 2016 sob acusação de peculato. Mesmo assim foi um dos principais financiado­res da cam- Gabinete Civil Carlos Eduardo Ciarlini Rosado (filho) panha de Rosani, com uma doação de R$ 12 mil.

Ao tomar posse, a prefeita nomeou parentes para 5 das 16 secretaria­s da sua gestão. Dois deles são irmãos de seu marido: Raquel Donadon assumiu a Educação e Josué Donadon, a secretaria de Obras. Também ganhou uma vaga o irmão da mulher de Marcos Donadon, Rogério Medeiros, na Agricultur­a.

Outros dois secretário­s são parentes da própria prefeita: a irmã Ivete Pires assumiu a pasta de Integração Governamen­tal e o sobrinho Sérgio Nakamura, a Fazenda. PROMESSA DE CAMPANHA Outros prefeitos ignoraram as promessas de campanha e colocaram parentes como seus auxiliares. No Maranhão, o novo prefeito da cidade de Caxias, Fábio Gentil (PRB), nomeou a mulher, um irmão e uma prima como secretário­s. Meses antes, criticou o antecessor por nomear parentes.

“Isso não é legal nem é direito. A prefeitura é do povo e não de uma família só”, disse, na propaganda eleitoral.

O mesmo aconteceu em Santana (AP), onde o prefeito Ofirney Sadala (PSDC), que se elegeu com promessas de moralizaçã­o, pôs dois irmãos à frente de secretaria­s.

Na Bahia, o prefeito de Itabuna, Fernando Gomes Oliveira (DEM), seguiu a cartilha: nomeou a mulher Sandra Neilma para a secretaria de Ação Social, o sobrinho Dinailson Gomes para a Administra­ção e o filho Sérgio Oliveira para o Trânsito.

Oliveira não tem experiênci­a em gestão na área. A prefeitura, contudo, informou que contratará um engenheiro de tráfego para o cargo de subsecretá­rio.

Por meio de sua assessoria, Fernando Gomes defendeu as nomeações e disse que, caso a Justiça um dia considere a prática uma ilegalidad­e, demitirá todos os parentes.

Os prefeitos de Mossoró, Vilhena, Caxias e Santana foram procurados, mas não respondera­m à reportagem.

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