Akbar Rafsanjani, líder moderado do Irã, morre aos 82
Presidente de 1989 a 1997, foi uma das principais vozes contra os conservadores e pela abertura política do país
Em seus últimos anos de vida, influenciou o regime a fechar acordo nuclear e recuperar relações com os EUA
Morreu neste domingo (8), aos 82 anos, o aiatolá Akbar Hashemi Rafsanjani, presidente do Irã entre 1989 e 1997, uma das principais vozes moderadas e responsável pela abertura econômica e pela modernização do país.
Segundo a imprensa estatal, ele sofreu um ataque cardíaco e chegou a ser levado a um hospital de Teerã, mas não resistiu.
Considerado um dos pilares da Revolução Islâmica, Rafsanjani foi líder do Parlamento de 1980, um ano após a queda do xá Reza Pahlevi, a 1988. Era o segundo do regime, atrás do líder supremo, aiatolá Ruhollah Khomeini, de quem foi colaborador.
Ele se tornou presidente em uma época decisiva do Irã. O país estava destruído devido à guerra com o Iraque (19801988), e Khomeini havia morrido meses antes, abrindo uma disputa no regime.
Além de convencer Khomeini a selar um acordo de paz com o ditador iraquiano, Saddam Hussein, foi um dos principais apoiadores da escolha do então presidente, Ali Khamenei, para assumir a vaga de líder supremo.
Em seus oito anos de governo, recuperou a infraestrutura do país, levando estradas, energia e telecomunicações para áreas distantes, promoveu a indústria local e chegou a propor uma abertura econômica e uma relação mais aberta com o mundo.
Por outro lado, permitiu o aumento da influência da Guarda Revolucionária (Forças Armadas) sobre a economia e aprofundou as relações com o libanês Hizbullah e o grupo palestino Hamas.
Isso fez com que ele fosse acusado de envolvimento em atentados contra judeus e tivesse sua captura internacional pedida pela Argentina por vínculo com o atentado terrorista a uma entidade judaica em Buenos Aires, que deixou 85 mortos em 1994. INFLUENCIADOR Ao sair do poder, porém, continuou a ser um dos principais influenciadores do regime. Foi uma das lideranças da oposição ao conservador Mahmoud Ahmadinejad (2005-2013), para quem perdeu a eleição de 2005.
No pleito seguinte, apoiou o moderado Hossein Mousavi contra a reeleição de Ahmadinejad. Após a vitória do conservador, deu seu apoio ao movimento que contestou os resultados eleitorais nos oito meses de protestos.
Isso levou à ira da linha dura, que tentou minimizá-lo nos anos seguintes. Em 2013 tentou voltar à Presidência, mas foi impedido pela cúpula da República Islâmica. Apoiou o moderado Hassan Rowhani, que foi eleito.
Dessa forma, tornou-se um participante do atual governo, colocando em prática a reaproximação com os EUA, impedida pela linha dura nos anos em que foi presidente.
Analistas consideram-no um dos principais mentores do acordo nuclear com as potências e de ter convencido Khamenei a apoiar o pacto, embora o ex-presidente nunca tenha tido sua confiança.
“As diferentes opiniões e interpretações ao longo deste extenso período nunca puderam quebrar nossa amizade”, disse Khamenei.
A morte de Rafsanjani significa uma grande perda para os moderados para a eleição de maio. “Não poderia ter vindo no pior momento”, disse o especialista americano em Irã Trita Parsi.