Temer deve viajar a Lisboa para funeral de Soares
COLABORAÇÃO PARA A EM LISBOA
Em um dos maiores atos pelos direitos dos imigrantes em Portugal, cerca de 2.000 pessoas de diferentes nacionalidades protestaram no Martim Moniz —bairro de Lisboa conhecido pela multiculturalidade— contra as recentes mudanças que dificultaram a legalização e o acesso aos serviços públicos de estrangeiros irregulares.
A aglomeração, no entanto, foi abordada por uma contra-manifestação de extrema direita marcada para a mesma hora e local, convocada para demonstrar contrariedade à presença de imigrantes. Os ânimos se exaltaram e a polícia precisou intervir.
O episódios, ocorrido há pouco mais de um mês, demonstra a intensificação da tensão migratória no país.
“Existe uma ideia de um Portugal acolhedor que nem sempre se traduz na realidade”, avalia Timóteo Macedo, presidente da Solidariedade Imigrante, maior associação de apoio a estrangeiros do país, para quem a situação desse grupo tem se deteriorado.
Manifestações abertamente xenofóbicas são raridade em Portugal, mas alguns casos despertaram atenção.
Segundo um estudo do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa divulgado no início de dezembro, Portugal está entre os países europeus que mais se opõem a receber imigrantes, logo depois da Hungria e da República Tcheca.
Em contraposição, a disposição dos portugueses para acolher refugiados, como os oriundos da guerra na Síria, foi uma das mais altas entre as nações avaliadas.
“A pesquisa mostra como a posição da sociedade quan- to aos imigrantes em geral contrasta com a solidariedade com os refugiados. Enquanto quem foge da guerra é recebido com acolhimento, quem foge da miséria é recebido com ressalvas”, diz o deputado José Manuel Pureza, do BE (Bloco de Esquerda), que defende alterações na lei para evitar que os estrangeiros sem documentos sejam explorados ou fiquem sem acesso a serviços básicos.
Em março, uma resolução do SEF (Serviço de Estrangeiros e Fronteiras) alterou o entendimento da lei de imigração e fechou a “janela” de legalização para os imigrantes irregulares que tinham contrato de trabalho no país. Paralelamente, o acesso a serviços de saúde e educação e ao NIF (equivalente ao CPF brasileiro) foi dificultado.
O governo de Portugal, comandado há um ano pelo socialista Anónio Costa, afirma que não houve mudanças para prejudicar os imigrantes, mas sim uma “adequação” para se enquadrar na lei que já existia. SITUAÇÃO O pico de imigração em Portugal foi em 2009, quando mais de 454 mil estrangeiros viviam no país. Em 2015, eram 388 mil residentes legalizados —desses, 21% são brasileiros, a maior comunidade estrangeira no país. Já o número de indocumentados, que não entram nas estatísticas oficiais, têm subido, segundo as principais entidades de assistência.
O aumento da burocracia é uma das principais críticas dos imigrantes. Embora tenha chegado a Portugal com visto de trabalho em uma multinacional francesa e com documentação em ordem, o tunisiano Mehdi Ben Boubaker, 36, que não fala bem português, disse ter tido dificuldade para apresentar os requisitos necessários para a renovação do visto.
Superada essa barreira, ainda precisou esperar mais de seis meses até conseguir marcar uma entrevista com os oficiais da imigração.
“Portugal é um país muito bom. Minha única questão é com as regras e as mudanças burocráticas que foram acontecendo. Poderia ter escolhido outro lugar, como a França. Mas eu sabia que lá em sempre seria olhado como um estranho. Aqui eu não sinto isso”, diz Boubaker.
MEHDI BEN BOUBAKER
imigrante tunisiano
DE SÃO PAULO
O presidente Michel Temer deve viajar para Portugal nesta segunda (9), no início da tarde, onde participará na terça-feira (10) das cerimônias em homenagem a Mário Soares, presidente e premiê português entre os anos 1970 e 1990, que morreu no sábado (7), aos 92 anos, em Lisboa.
Nesta segunda, o corpo de Soares sairá em cortejo em Lisboa, passando pela casa onde morou e chegando ao Mosteiro dos Jerônimos, onde o velório será aberto ao público.
Milhares de pessoas foram neste domingo à sede do Partido Socialista, fundado por Soares, para assinar livros de condolências. O político é considerado o “pai da democracia” portuguesa, por ter sido uma das principais figuras na luta contra o regime salazarista, que caiu com a Revolução dos Cravos, em 25 de abril de 1974.
Além de Temer, dezenas de líderes internacionais devem acompanhar o enterro nesta terça. Em viagem à Índia, o premiê português, António Costa, não estará presente.
lugar, mas Portugal é um país muito bom. Minha única questão é com as regras e as mudanças burocráticas que foram acontecendo