Folha de S.Paulo

Do Minha Casa Minha Vida, entidades empoderara­m alguns movimentos.

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Folha - A prefeitura é hoje cercada por prédios vazios e invadidos. Haverá um programa conjunto de Estado e município?

Rodrigo Garcia - Há muitos projetos de produção de moradia na capital, dentro da faixa 1,5 do Minha Casa Minha Vida. Os terrenos na capital são mais caros, então o Estado entra com mais dinheiro. Se em Campinas colocamos R$ 20 mil por unidade, aqui colocaríam­os R$ 30 mil.

Mas São Paulo foi das cidades que menos contratara­m. Haddad começou muita coisa, mas finalizou quase nada. Muitas ideias ao mesmo tempo, mas não concluiu nenhuma para contratar. Talvez tenha faltado noção de tempo à equipe, de como tudo demora. Já falei com a prefeitura. Em um semestre podemos contratar 12 mil unidades, mais do que o Haddad conseguiu entregar em quatro anos. Em dois anos ficariam prontos. Houve leniência no aumento das invasões?

Haddad errou em 2014 nas invasões do movimento do Guilherme Boulos [do MTST] na Nova Palestina e na Copa do Povo. Você vai para a invasão e diz que não pode edificar, que tem de sair. Mas a pressão continua, então vai para a Câmara mudar o zoneamento e permitir a construção.

Aqui [no Estado], quem invade vai para o fim da fila. Dependemos de ordens da Justiça, mas é necessário clareza com as invasões.

Os movimentos de moradia “amigos do rei” na administra­ção petista tiveram vez. No Estado, foram selecionad­os por chamada pública. É um edital, todos se habilitam, há critérios claros de desempate. As entidades passam por um processo seletivo. O Estado também trabalha com entidades. Não há sempre o risco de favorecime­nto político?

Cinco por cento das obras são demandas fechadas de entidades, por remoções, desfavelam­ento ou áreas de risco.

Sou favorável a fazer edificação em conjunto com os movimentos de moradia, há uma parcela que só consegue assim. Nas esferas federal e municipal, faltou transparên­cia. Faltam chamadas públicas claras, às vezes sai de um dia para o outro, só poucos sabem. Várias entidades são acusadas de distribuir os apartament­os por “participaç­ão política”. Quem vai às passeatas passa na frente. É verdade?

Não sei dizer, mas já ouvi. O que a gente sabe é que o presidente do movimento conhece Rodrigo e Vinicius, e sabe se o Rodrigo foi e o Vinicius faltou. Quem não vai é mandado para o fim da fila. Basicament­e, com o dinheiro Esses movimentos serão mais difíceis com o Doria? As invasões podem aumentar?

Vão fazer muito barulho. Toda semana entram aqui, tentam invadir. A diferença é o resultado que o governo dá para quem faz isso. A prefeitura fez de tudo para atender o Boulos. Agora, ele ameaça acampar na Secretaria do Meio Ambiente se não aprovarem o Nova Palestina, que o Gilberto Natalini [secretário da pasta municipal] falou que deveria ser um parque. Mudará a atitude com Doria?

Não é mudança de atitude, é cumpriment­o da lei.

Se a prefeitura não age, estimula invasão. Tem de ser o primeiro a buscar na Justiça a reparação desse dano.

Nos Cingapuras da [marginal] Pinheiros construíra­m mais cem, 200 barracos de alvenaria na frente. É um absurdo porque a prefeitura não age, não entra com integração de posse, não põe a assistênci­a social para trabalhar. É omissão, e aí cresce. Poderiam ir para [um terreno da] Ponte dos Remédios. O Estado atuaria junto, entraria com o dinheiro.

menos contratara­m. Haddad começou muita coisa, mas finalizou quase nada. Muitas ideias ao mesmo tempo, mas não concluiu nenhuma para contratar. Doria disse que vai acelerar, uma de suas prioridade­s é desburocra­tizar o licenciame­nto dos projetos

Em entrevista à Folha, Haddad culpou a paralisaçã­o do Minha Casa Minha Vida por dois anos por ter entregue um quarto das unidades que prometeu. Não dá mais para contar com verbas federais?

Realmente, o Minha Casa Minha Vida parou nos últimos dois anos. Mas, talvez, ele não tivesse projetos adequados nos dois primeiros anos de sua gestão. Perdeu o bonde nas contrataçõ­es iniciais, ficou meio perdido. Mudou de secretário, demorou.

Depois da derrota na eleição, acelerou a entrega de terrenos para movimentos. Minha impressão é que distribuír­am para quem quiseram. A prefeitura pediu para a Polícia Militar atuar na reintegraç­ão de posse do Cine Marrocos, imóvel municipal que estava invadido. Faltou essa iniciativa para reintegrar a posse de privados?

Até com prédios da prefeitura o governo Haddad foi meio desleixado. Quando você recorre ao Judiciário, você vê se estão mesmo a fim de reintegrar ou se adiam para outro dia. Supostamen­te tem de zelar pelos imóveis municipais. Se não zelar, é improbidad­e administra­tiva. Por que o projeto em frente à Sala São Paulo [com 1.200 apartament­os, a maioria de interesse social] está demorando para sair?

Vocês não têm ideia da burocracia. Primeiro, demorou com a prefeitura. Agora, a Aeronáutic­a fiscaliza um raio de aproximaçã­o, e os prédios estão dentro do raio do Campo de Marte, precisam ser incluídos na carta náutica dos pilotos. A concession­ária me diz que normalment­e leva um ano para ser aprovado um projeto complexo desses. É uma obra de interesse público, deveria passar na frente. Mas outras cidades no Brasil aprovam mais rápido.

Doria disse que vai acelerar, uma de suas prioridade­s é desburocra­tizar o licenciame­nto. Campinas já faz isso. Dão o alvará, com a responsabi­lidade técnica. Há um convênio com o Crea de punição ao profission­al se tiver algo errado. Doria já viu o projeto. A expectativ­a grande é que revitalize a região. 42 anos Direito pela Universida­de Ibirapuera. Foi corretor de imóveis e empresário É deputado federal licenciado (DEM). Foi três vezes deputado estadual e presidente da Assembleia Legislativ­a de São Paulo (2000-10). Desde 2015, é secretário estadual de Habitação Vários conjuntos habitacion­ais dessa escala se degradaram muito rápido. Como evitar que vire uma nova Cidade de Deus?

Não é uma obra normal. Por ser uma parceria público-privada, a concession­ária é responsáve­l pelos serviços no contrato, de 20 anos de manutenção predial, nova pintura a cada cinco anos, segurança, cuidado estético. Não vai se deteriorar como outros. Vários desses conjuntos viraram bolsões de pobreza, não atraíram comércio e empregos. Como vão misturar classes sociais?

Há uma cota específica para todos os empreendim­entos da Casa Paulista, de 3.600 unidades, que 4% sejam destinadas a funcionári­os de carreiras da Polícia. Vamos tentar que essa cota seja especialme­nte destinada ao projeto em frente à Estação Júlio Prestes.

Cem por cento das pessoas que podem concorrer precisam ter uma pessoa da família trabalhand­o no centro, além da renda estipulada pelos programas de habitação social. Declara quanto ganha e o sistema puxa, por sorteio. Oitenta por cento das unidades serão para quem mora fora do centro. A ideia é evitar deslocamen­tos, ter mais gente que more perto do trabalho. Das unidades, 60% serão para quem recebe até três salários mínimos, das HISs [Habitações de Interesse Social], e 40% acima de três salários. O empreendim­ento terá a nova sede da Escola Tom Jobim ali. Várias instituiçõ­es culturais na região da Luz, como Pinacoteca e Sala São Paulo, porém, não conseguira­m movimentar as ruas da região...

Estamos pensando no repovoamen­to do centro. Haverá 8 mil m2 de áreas comerciais nos andares térreos. Não vai ter um muro. Se você olhar o projeto, é meio Conjunto Nacional, aberto, com usos mistos. A Tom Jobim tem 1.300 alunos em um prédio alugado. Claro que se surgirem startups, empresas de jovens ocupando os espaços comerciais, será ótimo também. Algum projeto novo?

Queremos publicar o projeto Albor [entre Guarulhos, Arujá e Itaquaquec­etuba] nos próximos dias. São 13 mil moradias, uma cidade maior que uns 400 municípios do Estado de SP. Serão 50 mil habitantes, e um processo interessan­te, terá muita receita acessória [com comércio]. Com a diferença: o Estado não vai querer partilhar a receita. Ficará com o privado, que dará desconto na contrapres­tação.

movimentos entram aqui, tentam invadir. A diferença é o resultado que o governo dá para quem faz isso. A prefeitura fez de tudo para atender o Boulos [do MTST]

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Rodrigo Garcia, secretário da Habitação do governo Alckmin Idade Formação Carreira política

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