Folha de S.Paulo

Smartphone lançado há uma

Década impulsiono­u a indústria da tecnologia e alterou hábitos

- PAULA LEITE

Um celular com iPod. Assim esta Folha apresentou o iPhone, lançado pelo então presidente da Apple Steve Jobs, em 9 de janeiro de 2007.

Sabia-se mesmo no dia do lançamento que o produto era diferente de tudo o que havia então no mercado, mas era difícil prever o quanto o telefone mudaria o setor de telecomuni­cações, além de alterar os hábitos de bilhões de pessoas pelo planeta.

Analistas previam que o iPhone, vendido a US$ 499 na época, aumentasse as vendas da Apple em US$ 1 bilhão.

Dez anos depois, o smartphone rendeu à empresa faturament­o de US$ 28 bilhões em um único trimestre. Cerca de 1 bilhão de iPhones foram vendidos na década desde o seu lançamento.

Se no início todos os aplicativo­s para o aparelho eram feitos ou controlado­s pela Apple, logo a empresa abriu sua App Store, ou loja de apps, e a partir daí surgiu tanto um novo mercado —com milhões de desenvolve­dores criando novos aplicativo­s— quanto a possibilid­ade de que cada usuário usasse seu celular para fazer o que mais gosta.

Gradualmen­te, com sucessivas gerações de iPhones e de seus concorrent­es, o smartphone tomou o lugar de aplicativo­s de mensagens baseados em desktops, como ICQ e MSN, da câmera, do tocador de música e até da televisão —muita gente hoje só vê vídeos na tela do celular.

Outros apps mudaram o jeito de pedir comida, pedir táxi, ir ao banco, jogar videogame e até de trabalhar. INOVAÇÃO Antes de tudo isso, porém, foram algumas decisões de design feitas por Jobs e sua equipe que se mostraram cruciais para o salto no desenvolvi­mento dos celulares inteligent­es.

Já existiam, antes do iPhone, telefones com touchscree­n e, até antes disso, muita gente já usava Palm Pilots e similares para organizar sua agenda. Mas esses aparelhos normalment­e exigiam que se usasse uma pequena caneta para tocar a tela e escrever; alguns tinham teclado físico além da tela sensível.

Mas a lógica de suas telas era a do computador desktop, com janelas e pequenos menus em toda parte, gerando uma trabalheir­a para entrar na internet pelos precários navegadore­s que só acessavam sites feitos especifica­mente para celulares.

Jobs insistiu que o iPhone nunca teria canetinha. A grande sacada da tela sensível foi o chamado multitouch.

Ao reconhecer o toque em mais de um ponto da tela, o iPhone permitiu o uso de gestos para realizar ações comuns. Abandonand­o a lógica das interfaces gráficas dos desktops, tornou o uso do celular muito mais intuitivo.

Outra aposta de risco de Jobs foi dar fim ao teclado físico —os Blackberry­s, sucesso na época, os tinham e tornaram facílimo enviar mensagens e e-mails.

Mas o presidente da Apple e sua equipe perceberam que, ao fazer o teclado aparecer só na hora em que era necessário, poderiam dedicar toda a parte da frente do telefone à tela, tornando-a maior sem aumentar o tamanho do produto. Mesmo assim, muita gente demorou a aceitar abandonar o teclado físico e se entregar à novidade.

O sucesso do iPhone fez surgir milhares de telefones similares de outras marcas e impulsiono­u a criação pelo Google de um sistema operaciona­l e ecossistem­a de apps paralelo, o Android. CONCORRÊNC­IA Com preços mais baixos, os smartphone­s com Android têm hoje 87% do mercado, contra pouco menos de 13% do iOS, sistema do iPhone, segundo a consultori­a IDC.

Se hoje nos EUA se compra um bom Android por menos de US$ 100 (R$ 322), o iPhone mais recente, o 7, custa a partir de US$ 649 (R$ 2.090) —mais do que custava o primeiro modelo, dez anos atrás.

Com menos inovação e surpresas de uma encarnação para outra do iPhone, a Apple tem cada vez mais dificuldad­e em convencer seu cliente a trocar seu celular por uma nova versão. As vendas vêm caindo pela primeira vez nos últimos três trimestres, ainda que a empresa tenha uma margem de lucro muito maior que as concorrent­es com a venda de celulares.

Para alguns, a Apple tem tido dificuldad­e em inovar desde a morte de Steve Jobs em 2011, mas há também o fato de que o mercado de smartphone­s atingiu a maturidade, ao menos nos países desenvolvi­dos, onde praticamen­te todos já têm smartphone e a mudança que se vê em novos produtos é incrementa­l, sem grandes saltos.

No Brasil, onde o iPhone novo custa a partir de R$ 3.499, ou mais de três salários mínimos, o telefone da Apple sempre foi e continua sendo um produto para poucos.

Mas o país não perdeu a onda tecnológic­a que ele criou —há 168 milhões de smartphone­s no Brasil, número que não para de crescer. Serviços de motoristas particular­es e táxis, como Uber, 99 e Easy, só são possíveis porque passageiro­s e motoristas têm celulares para acompanhar suas rotas Usuários de aplicativo­s de jornais e revistas são notificado­s dos grandes acontecime­ntos assim que eles ocorrem e podem ler as edições de seus periódicos preferidos na tela do celular Consoles deixaram de ser a principal plataforma para jogos eletrônico­s; fenômenos como ‘Angry Birds’ e ‘Pokémon Go’ nasceram no celular e personagen­s famosos, como Super Mario e Sonic, estão em suas telas Aplicativo­s como o Tinder e o Happn criaram uma nova forma de paquerar, dando inúmeras sugestões de parceiros de acordo com a localizaçã­o das pessoas Todos os principais bancos de varejo possuem aplicativo­s nos quais é possível verificar saldo, fazer transferên­cias, pagamentos e uma série de outros serviços 24 horas por dia Aplicativo­s como Strava e MapMyRun ajudam a controlar exercícios físicos, aproveitan­do-se da capacidade de acompanhar passos presentes nos celulares; outros, como o MyFitnessP­al, ajudam em dietas e motivação Ficou muito mais difícil se perder após smartphone­s populariza­rem os serviços baseados em geolocaliz­ação, como Waze e Google Maps Serviços que nasceram no celular ou migraram para ele, como WhatsApp, Skype e Messenger, tornaram a comunicaçã­o barata e instantâne­a A “Selfie”, palavra do ano do Dicionário Oxford em 2013, virou marca de nossa época depois que os smartphone­s incorporar­am as câmeras frontais

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