Folha de S.Paulo

Juiz manda fechar presídio inteiro em Boa Vista

160 presos do regime semiaberto devem ficar em casa até o dia 13 para ‘evitar nova tragédia’

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Afirmando haver risco de “uma nova tragédia no sistema penitenciá­rio”, o juiz da vara de execuções penais de Boa Vista (RR) determinou no sábado (7) o esvaziamen­to de um presídio inteiro, que serve para abrigar, durante a noite, cerca de 160 detentos em regime semiaberto.

Ele acolheu um pedido da própria direção do CPP (Centro de Progressão Penitenciá­ria) do governo do Estado.

Com a decisão, assinada pelo juiz Marcelo Lima de Oliveira e pela juíza plantonist­a Suelen Márcia Silva Alves, os presos passaram neste domingo (8) a uma espécie de prisão domiciliar no período noturno. Antes da decisão, os detentos podiam trabalhar durante o dia, mas deviam dormir no CPP.

Eles agora estão obrigados a permanecer em suas casas a partir das 20h, não mudar de endereço, não portar “armas ou instrument­os que possam ser utilizados como armas” e não frequentar bares, entre outras medidas.

O juiz afirmou à Folha neste domingo que a medida foi tomada “em regime de emergência”, com validade até a próxima sexta-feira (13) e deverá ser reavaliada ao longo da semana após entendimen­tos com o governo estadual.

“É uma medida muito pensada, de dois juízes, é muito drástica, mas se precisava fazer. Havia informes de que o presídio seria o próximo palco de violências. Foi feito antes que aconteça uma nova tragédia”, disse o juiz.

Segundo Oliveira, desde outubro o CPP “vem sofrendo uma série de inseguranç­as, não possui muralhas, é um prédio antigo que nunca passou por reforma verdadeira”.

No último dia 28, Sebastião Simão Neto, 21, foi morto a tiros quando deixava a sede do CPP para ir ao trabalho. PEDIDO O pedido de esvaziamen­to do presídio partiu do próprio diretor do estabeleci­mento, Wlisses Freitas da Silva, e foi apoiado pela OAB (Ordem dos Advogados do Brasil).

O diretor disse que no último dia 6, após a chacina de 33 detentos em outra penitenciá­ria, a Pamc (Penitenciá­ria Agrícola de Monte Cristo), no CPP familiares e detentos, alguns dos quais ex-policiais, “estavam todos apavorados” e diziam que o local “seria alvo da próxima tragédia”.

“Este estabeleci­mento prisional passa por momentos tensos e de grande apreensão por conta dos últimos acontecime­ntos”, disse Silva ao juiz.

No ofício, Silva também chama a atenção para “o baixo efetivo dos servidores”, com apenas “três ou quatro” agentes penitenciá­rios para 160 detentos e outras centenas de internos albergados que comparecem ao local para assinar livro de frequência. “Ou seja, um fluxo de quase 500 pessoas. Fica inviável prestar segurança”.

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Marlene Bergamo/Folhapress Fachada do presídio esvaziado por decisão judicial em RR

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