Folha de S.Paulo

Cadeia reaberta para abrigar presos sob ameaça tem motim e 4 mortos

Unidade do AM que recebeu integrante­s de facção havia sido fechada devido a péssimas condições

- FABIANO MAISONNAVE BRUNA CHAGAS

Outros três corpos, que seriam de presos, foram encontrado­s em mata ao lado de complexo palco de outra matança

Ao menos quatro presos foram mortos, sendo três decapitado­s, em uma cadeia pública de Manaus na madrugada deste domingo (8). Essa unidade foi reaberta às pressas na semana passada para justamente, segundo o governo do Amazonas, oferecer segurança a presidiári­os transferid­os do maior presídio do Estado.

A Cadeia Pública Desembarga­dor Raimundo Vidal Pessoa, no centro de Manaus, havia sido fechada em outubro passado após inspeção do Judiciário que a considerou em péssimas condições.

Mas a briga entre facções que deixou um saldo de quase 60 presos mortos no início da semana passada no Complexo Prisional Anísio Jobim fez o governo mudar de ideia.

Um total de 283 detentos foram levados para a cadeia sem nenhum tipo de separação por alas. Entre eles, presos ligados à facção criminosa PCC, que são minoria no Estado, e outros sem facção que estavam no “seguro”, as celas destinadas aos presos ameaçados pelo restante dos detentos.

Na semana passada, a matança liderada pela facção Família do Norte, dominante na região, vitimou em sua maioria presos ligados ao PCC, de origem paulista.

Para o secretário estadual da Segurança Pública, Sergio Fontes, a rebelião não foi motivada por briga entre facções. “Todos [presos] eram ameaçados e não tinham convivênci­a em outros presídios.”

No momento das mortes, só havia dois agentes penitenci- VagasxPres­os,emmil Vagas Presos ários no local, segundo o sindicato dos servidores do Estado —dois presos seguiam desapareci­dos até este domingo.

Sobre a reabertura da cadeia sem divisão dos presos e ainda em situação precária, o Estado não se manifestou.

Também na manhã deste domingo, três corpos foram encontrado­s em mata ao lado do Complexo Anísio Jobim. Nenhum deles, porém, ainda foi identifica­do pelo IML.

Segundo assessores do governo, devem ser de envolvidos na rebelião do último final de semana —116 presos seguem foragidos desde então.

Com isso, subiria para 67 o total de presos mortos somente neste ano no Amazonas e para 102 em todo o país — mais 33 em Roraima e dois na Paraíba. As mortes nos oito primeiros dias de 2017 já equivalem a pouco mais de 25% do total registrado em todo ano passado. Em 2016, foram ao menos 372 assassinat­os — média de uma morte por dia nas penitenciá­rias do país. CRISE Os novos assassinat­os no Amazonas neste domingo aprofundar­am ainda mais a crise penitenciá­ria nacional. Como resposta, o governo federal anunciou mais algumas medidas tímidas, assim como fizera na semana passada.

Neste domingo, o ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, autorizou o envio de apoio federal, como grupos de estudo e equipament­os, para atender a solicitaçõ­es dos governos de Amazonas, Rondônia e Mato Grosso.

No caso de Roraima, integrante­s da Força Nacional de Segurança podem ser enviados ao Estado nos próximos dias. Após a chacina deste domingo, o governo do Amazonas também solicitou a ajuda da Força Nacional —o Ministério da Justiça vai avaliar como atender ao pedido.

Para discutir ações para conter a crise, o ministro também agendou para o dia 17 uma reunião com secretário­s de segurança e assuntos penitenciá­rios de todos os Estados.

Na semana passada, tanto o Palácio do Planalto como o Judiciário já haviam anunciado medidas tímidas para conter a crise. O governo federal, por exemplo, anunciou a construção, sem prazo definido, de mais cinco presídios federais —o suficiente para reduzir em apenas 0,4% o atual deficit de vagas no superlotad­o sistema carcerário.

Em todo o país, segundo último balanço do governo federal, de 2014, são 622,2 mil presos para 371,9 mil vagas, o que representa um deficit de 250,3 mil vagas. BELA MEGALE,

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Fabiano Maisonnave/Folhapress Parentes de detentos olham por frestas de porta de presídio

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