Cadeia reaberta para abrigar presos sob ameaça tem motim e 4 mortos
Unidade do AM que recebeu integrantes de facção havia sido fechada devido a péssimas condições
Outros três corpos, que seriam de presos, foram encontrados em mata ao lado de complexo palco de outra matança
Ao menos quatro presos foram mortos, sendo três decapitados, em uma cadeia pública de Manaus na madrugada deste domingo (8). Essa unidade foi reaberta às pressas na semana passada para justamente, segundo o governo do Amazonas, oferecer segurança a presidiários transferidos do maior presídio do Estado.
A Cadeia Pública Desembargador Raimundo Vidal Pessoa, no centro de Manaus, havia sido fechada em outubro passado após inspeção do Judiciário que a considerou em péssimas condições.
Mas a briga entre facções que deixou um saldo de quase 60 presos mortos no início da semana passada no Complexo Prisional Anísio Jobim fez o governo mudar de ideia.
Um total de 283 detentos foram levados para a cadeia sem nenhum tipo de separação por alas. Entre eles, presos ligados à facção criminosa PCC, que são minoria no Estado, e outros sem facção que estavam no “seguro”, as celas destinadas aos presos ameaçados pelo restante dos detentos.
Na semana passada, a matança liderada pela facção Família do Norte, dominante na região, vitimou em sua maioria presos ligados ao PCC, de origem paulista.
Para o secretário estadual da Segurança Pública, Sergio Fontes, a rebelião não foi motivada por briga entre facções. “Todos [presos] eram ameaçados e não tinham convivência em outros presídios.”
No momento das mortes, só havia dois agentes penitenci- VagasxPresos,emmil Vagas Presos ários no local, segundo o sindicato dos servidores do Estado —dois presos seguiam desaparecidos até este domingo.
Sobre a reabertura da cadeia sem divisão dos presos e ainda em situação precária, o Estado não se manifestou.
Também na manhã deste domingo, três corpos foram encontrados em mata ao lado do Complexo Anísio Jobim. Nenhum deles, porém, ainda foi identificado pelo IML.
Segundo assessores do governo, devem ser de envolvidos na rebelião do último final de semana —116 presos seguem foragidos desde então.
Com isso, subiria para 67 o total de presos mortos somente neste ano no Amazonas e para 102 em todo o país — mais 33 em Roraima e dois na Paraíba. As mortes nos oito primeiros dias de 2017 já equivalem a pouco mais de 25% do total registrado em todo ano passado. Em 2016, foram ao menos 372 assassinatos — média de uma morte por dia nas penitenciárias do país. CRISE Os novos assassinatos no Amazonas neste domingo aprofundaram ainda mais a crise penitenciária nacional. Como resposta, o governo federal anunciou mais algumas medidas tímidas, assim como fizera na semana passada.
Neste domingo, o ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, autorizou o envio de apoio federal, como grupos de estudo e equipamentos, para atender a solicitações dos governos de Amazonas, Rondônia e Mato Grosso.
No caso de Roraima, integrantes da Força Nacional de Segurança podem ser enviados ao Estado nos próximos dias. Após a chacina deste domingo, o governo do Amazonas também solicitou a ajuda da Força Nacional —o Ministério da Justiça vai avaliar como atender ao pedido.
Para discutir ações para conter a crise, o ministro também agendou para o dia 17 uma reunião com secretários de segurança e assuntos penitenciários de todos os Estados.
Na semana passada, tanto o Palácio do Planalto como o Judiciário já haviam anunciado medidas tímidas para conter a crise. O governo federal, por exemplo, anunciou a construção, sem prazo definido, de mais cinco presídios federais —o suficiente para reduzir em apenas 0,4% o atual deficit de vagas no superlotado sistema carcerário.
Em todo o país, segundo último balanço do governo federal, de 2014, são 622,2 mil presos para 371,9 mil vagas, o que representa um deficit de 250,3 mil vagas. BELA MEGALE,