Folha de S.Paulo

Fresta em porta vira fonte de ajuda a parentes

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DE MANAUS

Um minúsculo buraco de fechadura. Durante a maior parte deste domingo (8), essa foi a principal fonte de informação para dezenas de parentes de presos na Cadeia Pública Desembarga­dor Raimundo Vidal Pessoal, no centro de Manaus, onde ao menos quatro detentos morreram na madrugada.

Os presos começaram a se aglomerar ali nas primeiras horas da manhã.

Por volta das 12h, uma agente penitenciá­ria informou o nome de seis ausentes e pediu que os parentes desses se encaminhas­sem ao Instituto Médico Legal (IML).

Desses, quatro estão mortos e dois têm o paradeiro desconheci­do.

Os parentes então descobrira­m duas pequenas frestas em uma grande porta na parte lateral do prédio, inaugurado em 1907 e que foi reativado para receber parte dos presos que sobreviver­am ao massacre no complexo penitenciá­rio, o maior do Amazonas, no final de semana passado. A mais visível era a da fechadura.

Em intervalos, os familiares espalhavam informaçõe­s desencontr­adas do que viam pela fresta: um corpo novo encontrado, um preso apanhando, presos orando com um pastor.

Num desses boatos, a dona de casa Maria de Souza, 47, teve um breve desmaio quando uma amiga a contou que seu filho estava espancado no chão.

“A única informação é de que ele não morreu. Não consigo ir pra casa”, diz Souza, mãe de um detendo de 23 anos, preso há dois anos e três meses.

Por volta das 17h, uma agente penitenciá­ria leu os nomes dos presos vivos, arrancando gritos de alívio e agradecime­nto a Deus. Finda a leitura, alguns foram pra casa e outros se demoraram um pouco mais diante do prédio.

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