Pista sinuosa
Dada a queda geral dos investimentos públicos, a qualidade das rodovias brasileiras mostrou relativa resiliência nos últimos anos. Não há, porém, razão para otimismo.
Conforme o levantamento anual da Confederação Nacional do Transporte (CNT), as condições gerais das estradas pavimentadas do país melhoraram de 2013 a 2015. Em 2016, houve estagnação perigosa.
Da extensão pesquisada, 41,8% foram considerados em ótimo ou bom estado; mais da metade estava em situação regular (34,6%), ruim ou péssima (23,6%), proporções semelhantes às do ano anterior.
Tais resultados são piores do que parecem. Para começar, quase 80% da malha viária nacional nem sequer é asfaltada —portanto, não faz parte dessa estatística.
Os 211,5 mil km pavimentados deixam o Brasil com 25 km de rodovia asfaltada para cada 1.000 km2; há 54 na Rússia, 360 na China e 438 nos EUA, segundo a CNT.
As deficiências são evidentes quando se analisam os corredores de tráfego mais relevantes. O pior deles —a ligação entre as cidades de Luís Eduardo Magalhães (BA) e Natividade (TO)— teve sua rotina lastimável descrita nesta Folha.
Um caminhoneiro perde um pneu num dos inúmeros buracos da pista, e o custo de R$ 1.400 supera o valor a receber pelo frete; um comerciante costuma ter o terreno invadido por veículos que não freiam numa curva sem sinalização.
Ao longo de 262 km compostos por trechos de quatro rodovias, a rota fornece amostra farta das mazelas da infraestrutura nacional: degradação, desperdício, lentidão, encarecimento —além de 110 acidentes e 12 mortes apenas em 2015.
Lamentavelmente, perspectivas de melhora permanecem sombrias. Com o colapso das contas públicas, os desembolsos do governo federal para suas estradas minguaram de R$ 15 bilhões, em 2010, para meros R$ 6 bilhões em 2015, em valores corrigidos.
A saída será atrair a iniciativa privada, em particular o capital estrangeiro. No entanto, depois do amplo pacote de concessões lançado pela administração de Dilma Rousseff (PT), restam obstáculos a contornar como recessão, escassez de crédito e dúvidas regulatórias.
De imediato há a resolver as pendências das atuais concessionárias, que, apesar de dificuldades de caixa e envolvimento em escândalos, respondem por parte considerável das vias em boas condições. RIO DE JANEIRO -