Folha de S.Paulo

Um concílio

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O ano de 2017 não está dado. Vai ser o que formos capazes de fazer dele, sob as condições objetivas, sociais e políticas, que nos limitam. Temos escolhas.

Podemos curtir mais um ano de luto: continuar a carpir pela perda de uma política honesta, generosa, doentiamen­te voluntaris­ta e inconforma­da com a aritmética e seguir atribuindo-a a um “golpe”! Ou podemos recuperar o senso de realidade e trabalhar para que a correção de rumos se faça com justiça e razoabilid­ade.

Uma miopia ideológica impede que parte da nossa sociedade reconheça que a Federação (a União e os entes federados) faliu pela inépcia do Poder Executivo. O enfraqueci­mento dele, aliás, abriu espaço para uma disputa com o Legislativ­o e com o Judiciário, que buscam mais poder.

Um dos mais graves obstáculos para o bom funcioname­nto do sistema produtivo nacional é a reconhecid­a inseguranç­a jurídica, com a péssima qualidade de nossas leis.

Elas primam pela dubiedade, resultado de acordos “necessário­s” para a sua aprovação no Congresso para acomodar interesses frequentem­ente pouco republican­os. Com a perda de protagonis­mo de Dilma Rousseff, tudo foi judicializ­ado!

Neste início de ano seria interessan­te tentar pôr um pouco de ordem na casa. Talvez fosse útil, por exemplo, um “concílio” (pelo caráter quase religioso) dos presidente­s dos Poderes da República, para acomodar cada um, dentro do “livrinho”.

Devem resignar-se: 1º) a incorporar que são independen­tes mas devem ser harmônicos e devem controlar-se, mutuamente, para coibir mesmo o menor abuso de poder e 2º) aceitar que todos, no final, serão regulados pelas decisões do Supremo Tribunal Federal.

Foi esta corte que, na prática, a Constituiç­ão de 1988 sacralizou! Ela quer que o Supremo seja o último garantidor da sua própria execução, das liberdades dos cidadãos e da harmonia e equilíbrio entre as instituiçõ­es.

É tão sagrado que os constituin­tes, na falta de uma solução divina, conformara­m-se em dar-lhe o direito, irrecorrív­el, de errar por último, mas isso não inclui a licença para “criar” moeda ou “anular” contratos perfeitos e acabados entre os entes federados.

Não será demais, portanto, exigir de cada dos seus membros, sob quem repousa 1/11 das esperanças da sociedade brasileira, que suporte, introjete e se comporte à altura do honroso e irrevogáve­l compromiss­o que assumiu com ela.

Quanto ao mais, em 2017 o melhor é ficar com Michel Temer e exigir que ele insista nas reformas estruturai­s que facilitarã­o a vida do poder incumbente que nós elegeremos em 2018.

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