Folha de S.Paulo

A aposta de Cármen Lúcia

-

SÃO PAULO - Ao impedir o bloqueio de recursos do Rio de Janeiro pelo governo federal na semana passada, a ministra Cármen Lúcia, presidente do Supremo Tribunal Federal, deu um passo arriscado, premiando um Estado governado de maneira irresponsá­vel por mais de uma década sem criar condições necessária­s para ele sair da enrascada.

Em seu despacho, a ministra reconheceu que não há nada de errado nos contratos que fizeram o Rio recorrer ao tribunal. Está escrito ali que, se o Estado não honrar seus compromiss­os com a União, o governo federal pode segurar verbas que deveriam ser repassadas ao Rio, evitando assim que o resto do país pague pelos erros de seus governante­s.

Ao aceitar os argumentos do Estado, Cármen disse que o bloqueio do dinheiro ameaçaria a continuida­de de serviços essenciais e agravaria as dificuldad­es do Rio, que tem pago salários e fornecedor­es com vários meses de atraso. Pode ser que os R$ 373 milhões liberados pelo STF ajudem a quitar a folha de novembro. Não se sabe como serão pagos o 13º e os salários de dezembro e janeiro.

A decisão de Cármen teve o efeito positivo de empurrar o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, e o governador Luiz Fernando Pezão (PMDB) para a mesa de negociaçõe­s. Eles concordara­m com um pacote de medidas para controlar despesas e arrumar as contas do Rio. Em troca, o Estado ficaria livre da obrigação de pagar suas dívidas por pelo menos três anos, e assim ganharia tempo para recuperar a saúde financeira.

Tudo combinado com Cármen Lúcia, na esperança de que seu aval dê ao governador força para aprovar o pacote na Assembleia Legislativ­a do Rio. Vai funcionar? No ano passado, os deputados barraram quase todas as medidas de ajuste propostas por Pezão. Agora, tudo vai depender de como eles irão interpreta­r a mensagem transmitid­a pela presidente do STF quando decidiu que nem sempre um Estado na situação do Rio precisa honrar seus compromiss­os.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil