Folha de S.Paulo

Argentina debate idade penal após crimes

Dois assassinat­os por menores em Buenos Aires fazem parte da população pressionar por redução da maioridade

- SYLVIA COLOMBO Manifestan­tes protestam em Buenos Aires contra a morte do jovem Brian Aguinaco, 14, que foi baleado por um assaltante apenas um ano mais velho

Macri forma grupo para elaborar projeto de lei que prevê diminuição de 16 para 14 anos, dependendo do delito

Dois assassinat­os cometidos por menores nas últimas semanas reavivaram a discussão sobre a redução da maioridade penal na Argentina —assunto que vem ganhando espaço nas últimas eleições e retorna neste ano, quando o país renova mais da metade de seu Congresso.

A morte violenta do garoto Brian Aguinaco, 14, morto no dia de Natal por um assaltante apenas um ano mais velho do que ele, e a de um eletricist­a de 42 anos (na última segunda) por outro jovem de 15 anos fizeram com que governo, políticos de oposição e a Igreja tomassem posição sobre o tema.

Para esta quarta (11), está marcada uma marcha no bairro de Flores, em Buenos Aires, na qual estarão presentes os pais de Aguinaco. Eles querem que o autor do disparo que tirou a vida do filho seja julgado e condenado. “Creio que deve pagar como um adulto, porque é consciente do que fez”, disse o pai, Fernando Aguinaco.

O presidente Mauricio Macri anunciou a formação de uma mesa de especialis­tas para elaborar um projeto de lei a ser levado ao Congresso propondo uma reforma do regime penal juvenil.

A intenção do governo é baixar a idade penal, hoje de

MARGARITA STOLBIZER

ex-candidata à Presidênci­a e opositora do projeto de redução da maioridade 16 anos, para 14, com escalas distintas dependendo do tipo de crime praticado.

“A lei que temos hoje é da época da ditadura e tem de ser modificada. Na discussão entrará a redução da idade penal, mas também o tratamento dos jovens em conflito com a lei. A ideia é pensar em projetos de reinserção para que, com o tempo, haja menos menores de idade nessa situação”, disse o ministro da Justiça, Germán Garavano.

Para esse projeto, o governo conta com alguns aliados dentro da própria oposição.

Setores do kirchneris­mo e da União Cívica Radical já defenderam a medida em eleições anteriores, assim como o peronista Sergio Massa, durante a campanha presidenci­al de 2015, e a aliada —porém crítica ao governo— Elisa Carrió (Coalizão Cívica). “Menores são usados como mão de obra de organizaçõ­es criminosas”, disse Carrió.

Entre os que se opõem à ideia estão partidos de esquerda e políticos mais independen­tes. A ex-candidata à Presidênci­a Margarita Stolbizer, hoje importante voz do anti-macrismo, diz que se trata de uma iniciativa “demagógica”. “Teria sido melhor que o presidente começasse a gestão propondo-se a melhorar a escola secundária, e não colocando mais crianças na prisão.”

Stolbizer chamou a atenção para a sensibilid­ade do tema e a pertinênci­a de discuti-lo em um ano eleitoral.

A Igreja Católica também se posicionou contra a medida. Por meio da Conferênci­a Episcopal Argentina, os bispos disseram considerar prioritári­o que o “Estado cumpra seu papel de assistênci­a e proteção à infância”.

Em nota, disseram-se contra “a intenção do Poder Executivo de impulsiona­r uma reforma legislativ­a que leve à redução da maioridade penal de 16 a 14 anos” e pediram o fim da “perseguiçã­o estatal dos adolescent­es”.

“melhor que o presidente começasse a gestão propondo-se a melhorar a escola secundária, e não colocando mais crianças na prisão

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Marcelo Carrol - 26.dez.2016/Clarín

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