Folha de S.Paulo

Incentivos fiscais de R$ 3 bilhões podem ser extintos até 2018

Programas que beneficiam montadoras, construtor­as e outras empresas perderão validade até o próximo ano

- MAELI PRADO

Setor automobilí­stico negocia com o governo alternativ­a para fim do Inovar-Auto, que foi condenado pela OMC

Montadoras de veículos, construtor­as, fábricas de fertilizan­tes e o setor de audiovisua­l estão ameaçados de perder incentivos fiscais que representa­rão R$ 3,3 bilhões em benefícios neste ano.

Os programas que garantem esses incentivos perderão validade até o próximo ano, e a orientação no Ministério da Fazenda é não renovar os benefícios cujo prazo expirar. A decisão, no entanto, será tomada caso a caso.

Ao todo, são 15 tipos de isenções que vencem entre 2017 e 2018, incluindo também incentivos à formalizaç­ão de empregados domésticos e investimen­tos no Nordeste e na região amazônica.

Em dezembro, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, afirmou que, “a princípio”, o governo não pretende renovar as renúncias fiscais que perderem a validade.

A avaliação no governo é que muitos desses programas são ineficient­es em termos de geração de emprego e investimen­tos e se tornaram dispensáve­is, num momento de preocupaçã­o crescente com o equilíbrio das contas públicas.

No ano passado, estímulos fiscais que beneficiav­am cinco setores e que representa­vam mais de R$ 3 bilhões por ano não foram prorrogado­s.

O principal programa de desoneraçã­o que expira em 2017 é o Inovar-Auto, que tem previsão de acabar em dezembro e renúncia fiscal estimada em R$ 1,2 bilhão neste ano.

Além da necessidad­e do governo federal de aumentar sua arrecadaçã­o, pesa contra a prorrogaçã­o o fato de o programa, instituído durante o governo Dilma Rousseff, em 2012, ter sido condenado na OMC (Organizaçã­o Mundial do Comércio), por ser considerad­o protecioni­sta.

Representa­ntes de montadoras já dão como certo o fim do programa no formato atual, que prevê abatimento de IPI (Imposto sobre Produtos Industrial­izados) em troca do uso de peças nacionais, produção local e elevação da eficiência energética dos carros.

Por isso, essas empresas já iniciaram conversas com o Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços para a criação de uma nova política industrial para o setor.

Outro programa que vence neste ano, também criado em 2012 pelo governo Dilma, é o Reif, um regime de incentivo criado para a indústria de fertilizan­tes que neste ano representa perda de R$ 255 milhões para os cofres do governo. CONGRESSO Entre os benefícios que vencem em 2018 estão o incentivo à formalizaç­ão do emprego doméstico (R$ 713,6 milhões) e regimes especiais para o programa Minha Casa, Minha Vida (R$ 440 milhões), além de incentivos a creches.

As desoneraçõ­es que acabam em 2017 e 2018 representa­m parcela pequena (cerca de 1%) do total de incentivos concedidos pelo governo —R$ 279,8 bilhões neste ano, de acordo com o Orçamento.

Seria o suficiente para bancar quase toda a folha de pagamento de funcionári­os ativos e inativos do governo federal nesse mesmo período.

Uma das dificuldad­es para rever essas isenções é que muitas têm prazo de vencimento muito longo ou indetermin­ado. O seu fim, portanto, depende do Congresso.

“Não é fácil retirar uma desoneraçã­o depois que ela foi concedida”, explica o economista Isaias Coelho, diretor do Centro de Cidadania Fiscal, um grupo de estudos. “Em um momento de controle de gastos, é melhor que esses benefícios sejam retirados do que aumentar impostos.”

Procurado pela Folha ,o Ministério da Fazenda não se pronunciou sobre a renovação das desoneraçõ­es que vão expirar em 2017 e 2018.

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Alan Marques - 22.dez.2016/Folhapress O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, durante evento

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