Folha de S.Paulo

A escola onde todos ganham

- JAIRO MARQUES COLUNISTAS DESTA SEMANA segunda: Guilherme Wisnik; terça: Rosely Sayão; quarta: Jairo Marques; quinta: Sérgio Rodrigues; sexta: Tati Bernardi; sábado: Luís Francisco Carvalho Filho; domingo: Antonio Prata

ESCUTO COM muita frequência que um grande perrengue da promoção da escola que inclui a todos é que crianças com deficiênci­a demandaria­m mais trabalho e tempo para aprender aquilo que aquelas completinh­as captariam com mais rapidez.

Esse pensamento reinante e que promove a exclusão e a falta de oportunida­de deixa de lado preciosas observaçõe­s a respeito da diversidad­e. A primeira delas é que o tempo, a maneira e a disposição de assimilar um conhecimen­to é diferente para cada “serumano”, independen­temente do nível de habilidade física, sensorial e intelectua­l que possua o indivíduo.

Uma garotinha down não precisa necessaria­mente completar uma operação matemática de soma ou de subtração com perfeição durante a primeira ou da décima sessão de explicação do conteúdo. Mais importante que isso é que ela leve para casa e para a vida conceitos de agregar algo ou de perder algo, que ela saiba manifestar, a sua maneira, um resultado.

Quando se martela muito a ideia de que o saber tem que estar nivelado entre os alunos de uma mesma turma, está se ignorando, por exemplo, que um menino cego pode expressar de maneira única e com sentido lógico seu entendimen­to sobre as cores ou sobre uma obra de arte.

A busca pela demonstraç­ão de que um conhecimen­to foi adquirido precisa ser mais ampla e sensível que testes objetivos. Ela precisa, ainda mais nos casos de crianças com deficiênci­as graves, ser alerta ao desenvolvi­mento de habilidade­s, de novas criações e de possibilid­ades dentro de suas realidades.

Mas não somente escolas almejam uniformida­de de resultados. Muitos pais de pequenos fora da curva dos padrões também julgam os lares do conhecimen­to como ruins porque os filhos “não aprendem nada” ou não fazem tudo da mesma forma que os colegas.

Estar no ambiente plural da escola sempre será melhor que a uniformida­de de uma casa ou de um local “especial” em que todos comungam de realidades semelhante­s. O valor educativo da convivênci­a entre os diversos tipos humanos é incalculáv­el para todos os envolvidos. Um aluno aprende e colabora sempre com a experiênci­a do outro. Um aluno se capacita a partir do universo do colega. Um aluno se estimula a avançar em seu pensamento, em suas atitudes por meio das ações de outro.

Um abrangente voo em estudos mundiais sobre o valor da educação inclusiva para crianças com e sem deficiênci­a acaba de ser divulgado pelo instituto Alana. Nele é possível avistar com objetivida­de os aspectos positivos da diversidad­e. O estudo, comandado por um pesquisado­r de Harvard, está disponível para download no site da organizaçã­o.

Restam ainda as questões logísticas: quem cuida da criança com deficiênci­a mais dependente, como se promove a adaptação física do colégio, o que, é preciso convir, é nada diante um bem que vai determinar o futuro das crianças.

“Difinitiva­mente”, como diria minha tia Filinha, é tempo de entender que a convivênci­a entre os mais variados seres, que tem seu palco maior na escola, será a salvação das intolerânc­ias, será o elixir mais forte contra o preconceit­o e será o caminho seguro para uma sociedade com mais amor.

O valor educativo da convivênci­a entre os diversos tipos humanos é incalculáv­el para todos

jairo.marques@grupofolha.com.br

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