Aumentar o Mundial faz sentido apenas para angariar votos
FOLHA
João Havelange estava em plena campanha para a presidência da Fifa em 1972, quando promoveu a Minicopa, com o auxílio do governo do general Emílio Garrastazu Médici. Era a comemoração dos 150 anos da Independência do Brasil, mas o objetivo central era conquistar votos para derrotar o inglês Stanley Matthews na eleição da Fifa de 1974. Naquele tempo, a Copa do Mundo de futebol tinha 16 participantes e Havelange convidou 20 seleções para a Minicopa. E olha que era mini... Naquela época, Gianni Infantino ainda estava aprendendo a falar. Nasceu em 1970, em Brig, na Suíça, formou-se advogado na Universidade de Friburg, na Alemanha, o que provavelmente lhe dá argumentos para defender o indefensável: a Copa do Mundo com 48 seleções. Será assim a partir de 2026. Que a finalidade é pagar os votos recebidos para eleger-se presidente da Fifa e manter o curral eleitoral nos países da periferia do futebol, é óbvio. Gianni Infantino segue de novo o mau exemplo de João Havelange, que ampliou a Copa do Mundo de 16 para 24 seleções nacionais em 1982 e criou um monstrengo. Era impossível eliminar metade das seleções e criar uma divisão capaz de chegar à final com os dois melhores.
Na Copa da Espanha, em 1982, dos 24 times divididos em seis grupos, 12 classificaram-se e formaram quatro grupos de três seleções na segunda fase. A fórmula não foi aprovada. Nos três Mundiais seguintes, classificaram-se os dois melhores de cada chave e mais quatro terceiros colocados, os repescados.
A Argentina, vice em 1990, e a Itália, vice em 1994, só passaram da primeira fase, porque a regra permitia classificação em terceiro lugar.
Quando o Mundial saltou de 24 para 32 seleções, na França, em 1998, o objetivo também era agradar aos eleitores periféricos. Mas a Copa melhorou com a impossibilidade de classificação dos terceiros colocados.
Mudar agora, de 32 para 48 seleções, é um disparate técnico e matemático.
Será necessário voltar aos grupos de três, montados apenas na pré-história das Copas, em 1930 e 1950 e na segunda fase de 1982. .
Faz sentido apenas para angariar votos na próxima eleição da Fifa.
Ao mesmo tempo, pode ser uma arapuca para Gianni Infantino. Porque na atual economia do futebol mundial, o que o presidente da Fifa mais necessita é tornar a Copa do Mundo mais atraente. Ela segue sendo o grande torneio de futebol do planeta, mas ameaçada pela hegemonia da Liga dos Campeões como o torneio de clubes.
Infantino insiste na tese de difusão do futebol por todos os continentes, o que é justo. Mas não se faz isso com mais seleções participantes no Mundial.
Hoje há mais seleções capazes de surpreender numa Copa, como fez a Costa Rica em 2014. Esse não é um argumento para aumentar o número de participantes. Ao contrário, é o ideal para fazer um torneio sensacional com 32 equipes que tenham, cada uma no seu limite, possibilidade de brilhar.
Ter 48 equipes nacionais significa dar vaga a 22% dos países filiados à Fifa. De cada cinco seleções, uma estará na Copa do Mundo. Gianni Infantino dá um tiro no próprio pé e está pedindo para o maior torneio do planeta perder um pouco de sua relevância.