Folha de S.Paulo

UMA SHIRLEY QUALQUER

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Susana Vieira diz que há várias Susanas dentro de si. Ela, que nasceu Sônia Maria, mas adotou o nome artístico há mais de 50 anos, conta de seu lado atriz, outro mulher e dona de casa. Quando os cães começam a bradar, interrompe a conversa: “Não posso dar entrevista com os cachorros latindo”, ouve-se do outro lado da linha. E ela retorna: “Desculpa, querida, essa é a Susana Vieira lado B”.

Já a Susana que chega ao palco do Teatro Renaissanc­e, em São Paulo, a partir desta sexta (13) é uma representa­ção da “mulher que somos todas nós desde o século passado e que continuare­mos sendo até o ano 4000: metidas a corajosas, mas uns coelhinhos quando nos apaixonamo­s”.

A atriz estreia na cidade “Uma Shirley Qualquer”, versão da peça “Shirley Valentine”, do britânico Willy Russell, adaptada e dirigida por Miguel Falabella. No monólogo, interpreta uma dona de casa que, cansada da vida modorrenta, decide largar os afazeres domésticos e parte em uma viagem para a Grécia.

Em cena, fala sobre o marido, o filho e sua “vontade de se soltar”. É uma peça escrita há 30 anos, mas “atemporal”, segundo a atriz. “Eu acho tão engraçado que o mundo fica mais moderno e a gente continua pisando em ovos em várias situações. Acho que a mulher mudou na independên­cia dela, mas na alma mesmo não mudou muito não.”

“É o seguinte: todas nós so- mos donas de casa. Qual é a mulher que não lava um copo? Qual a mulher que nunca trocou a fralda de um filho? Você acha que aquela princesa linda lá [Kate Middleton] não troca uma fralda?” VALE TUDO Aos 74, a atriz repete aqui a parceria com Falabella (ele a dirigiu, entre outros, em “A Partilha”, nos anos 1990). “Ele ia traduzindo [a peça] e eu fiquei encantada. Como eu sempre digo ‘sim’, sou ‘Susana Vale Tudo’, ‘Susana Sempre Sim’, eu falei ‘sim’ e depois fui ver o que era.”

E chega a São Paulo um ano e meio após acidente ter interrompi­do a temporada paulistana de sua peça anterior, “BarbarIdad­e”. Susana provava um novo figurino e, ao fazer uma pirueta, tropeçou na saia e fraturou o pé.

“Eu tentei de tudo para fazer a peça, mesmo com o pé quebrado, em cadeira de rodas, com bota. Mas era um musical, e a graça mesmo era eu entrar dançando, cantando. Bem ou mal, mas era eu.”

Na época, começara a gravar a novela “A Regra do Jogo”, na qual interpreta­va uma ex-prostituta.

“Gravei um mês com o pé quebrado. A gente colocava um salto da altura da bota [imobilizad­ora] e eu fingia que tava dançando funk de bota. Era muito sacrifício, inchava, mas eu tô acostumada, meu amor. Comigo não é qualquer botinha que vai me derrubar não, pode ter certeza.”

“Shirley” estreou em Vitória no fim de 2016. Passou por Belo Horizonte, Porto Alegre e Campinas, entre outros, antes de chegar a São Paulo.

Na temporada, a atriz diz ter recebido um público mais jovem, fato que ela credita à sua participaç­ão na bancada do “Vídeo Show”, no ano passado, muito comentada pelo jeito espontâneo e sem papas na língua da atriz. “Ali era a Susana marca original”.

“Mas eu não podia fazer o que eu quisesse, não. Eu tinha uma censura, não sou uma pessoa maluca”, diz a atriz, que na atração contou, por exemplo, que se recusou a fazer “Uga Uga” porque achou feio o nome da novela.

Deixou o programa vespertino em dezembro para viver a vilã Cora na próxima novela das 23h da Globo, que começa a ser gravada em fevereiro. “Fiquei triste de sair. Queria fazer os dois.”

Também está escrevendo uma autobiogra­fia, em parceria com o autor e especialis­ta em teledramat­urgia Mauro Alencar. Ainda sem título, deve ser lançada no segundo semestre. Uma visão, diz ela, sobre sua carreira e “as coisas que eu vi na vida”.

“É mais uma continuida­de dessa minha maneira de ser: estar sempre em movimento, sempre trabalhand­o. Eu nasci para ter qualquer tipo de profissão. E, minha filha, se tiver que fritar um bife, eu frito liiinda. O bife vai sair meio ressecado, mas eu frito.” QUANDO sex., às 21h20; sáb., às 21h; dom., às 18h30; até 26/3 (não haverá sessão em 17 e 26/2) ONDE Teatro Renaissanc­e, al. Santos, 2.233, tel. (11) 3069-2286 QUANTO R$ 100 CLASSIFICA­ÇÃO 12 anos

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Valentino Mello/Divulgação A atriz Susana Vieira no monólogo ‘Uma Shirley Qualquer’, versão da peça ‘Shirley Valentine’, do britânico Willy Russell, que fica em cartaz até 26/3

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