Folha de S.Paulo

Uma melhora nas safras de alimentos, que antes foram vilões da inflação, contribuír­am para melhorar o cenário.

- LUCAS VETTORAZZO

DO RIO

O ano de 2016 chegou ao fim com a inflação brasileira em queda e dentro dos limites fixados pelo governo, cenário considerad­o improvável por muitos economista­s em meados do ano passado.

O IPCA, índice oficial de preços do país, teve alta de 6,29% no ano, informou o IBGE. Em dezembro, o índice avançou 0,30%.

Foi a primeira vez desde 2014 que a inflação ficou dentro da meta estabeleci­da pelo governo, que é de 4,5% ao ano, com tolerância até 6,5%.

A redução do consumo de bens e serviços no país em decorrênci­a da recessão econômica fez ceder a inflação, que atingiu 10,67% em 2015, maior patamar em uma década.

O presidente Michel Temer, que exerce o cargo desde o afastament­o de Dilma Rousseff, em maio, comemorou o resultado ao discursar numa reunião no Planalto. “Ninguém esperava que ao final do ano se chegasse abaixo da meta estabeleci­da.”

O avanço do desemprego e a perda de renda dos trabalhado­res fizeram ceder pressões que alimentara­m a alta dos preços durante o ano. Segundo analistas ouvidos pela Folha, a tendência é que a inflação continue em trajetó- ria de queda. O Banco Central prevê que o centro da meta, de 4,5%, será alcançado até o fim do ano.

A partir deste ano, o intervalo de tolerância da meta de inflação cai para 1,5 ponto percentual. Ou seja, o teto da meta será de 6% neste ano.

O desemprego deve continuar em alta até o fim do primeiro semestre. A perda de renda reduz o consumo de bens e, principalm­ente, ser- viços. Segundo o IPCA, os preços dos serviços, que subiram 8,09% em 2015, avançaram 6,50% no ano passado.

Além da piora da atividade econômica, a queda dos preços da energia elétrica e ALIMENTOS Em 2015, a inflação bateu recorde por causa do aumento de preços controlado­s, como o da energia, que o governo tentou segurar em 2014. Em 2016, a inflação subiu principalm­ente por causa dos alimentos, cujos preços refletiram problemas nas safras.

Chuvas em abundância no Sul e secas no Nordeste fizeram disparar preços. A desacelera­ção na segunda metade do ano abriu espaço para o BC diminuir os juros.

“Os fundamento­s da melhora da inflação, o desemprego e a queda da renda do trabalhado­r, vão continuar neste ano”, afirmou o economista do Modal, Daniel Silva.

“Há uma capacidade ociosa muito grande na produção brasileira, além de um desemprego que será mantido em alta”, acrescento­u. “Ou seja, mesmo que haja um aumento do consumo, os vários setores ainda têm um caminho a percorrer antes de haver pressão nos preços.”

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