Folha de S.Paulo

Doria vai rever entrega de leite e transporte a alunos

Secretário da Educação quer cortar benefícios para investir em sala de aula

- PAULO SALDAÑA EDUARDO SCOLESE

Crise no orçamento foi agravada com decisão do prefeito de congelar o valor da passagem de ônibus em R$ 3,80

Com graves dificuldad­es orçamentár­ias, o prefeito João Doria (PSDB) pretende rever gastos da Secretaria de Educação que não estejam ligados diretament­e ao ensino.

O primeiro a ser reduzido deve ser o programa Leve Leite, que hoje atende estudantes da creche ao 9º ano da rede municipal. Segundo o secretário municipal de Educação, Alexandre Schneider, a compra de material escolar e o transporte de alunos irão passar por um pente-fino e também podem ser revistos.

Já reduzido devido à crise na economia, o orçamento se tornou uma peça ainda mais sensível da nova gestão após o congelamen­to das tarifas de ônibus em R$ 3,80 neste ano —o que ampliará em cerca de R$ 1 bilhão os gastos da prefeitura com as viações.

Há menos de 15 dias no cargo que já havia ocupado entre 2006 e 2012, na gestão Gilberto Kassab (PSD), Schneider tem se debruçado sobre as finanças da pasta para desenhar as ações para os próximos quatro anos.

“A situação fiscal da prefeitura não é fácil. Chego em um momento muito mais difícil que da primeira vez que fui secretário”, disse à Folha.

Estão na mira gastos que consomem em torno de R$ 1,1 bilhão do orçamento da secretaria —de um total de R$ 10,9 bilhões. O secretário de Doria cita que, por outro lado, a rubrica de apoio pedagógico, aquele diretament­e ligada à sala de aula, soma somente R$ 130 milhões.

“Todos os contratos e projetos estão sob revisão. Mas, se tiver que rever o leite, contratos de serviços terceiriza­dos, se tiver que aprofundar esse revisão, por mais mérito que tenha, vamos fazer”, diz. “Os recursos que vão para a escola terão prioridade”.

A previsão de gastos em 2017 para material escolar e uniforme é de R$ 140 milhões. Outros R$ 260 milhões estão destinados para o transporte escolar gratuito. O programa de passe livre para estudantes criado pela gestão Fernando Haddad (PT) deve compromete­r neste ano, segundo Schneider, R$ 400 milhões do orçamento da pasta.

“Socialment­e, é interessan­te garantir acesso ao transporte gratuito. Mas, do ponto de vista da educação, cria um problema no orçamento”, declara ele.

Já o Leve Leite tem a previsão de gastos de R$ 340 milhões em 2017. O programa, criado em 1995 na gestão de Paulo Maluf (PP), oferece latas de leite em pó a todos os 900 mil alunos da rede municipal, da creche ao 9º ano.

No ano passado, por causa da crise, a gestão Fernando Haddad (PT) já havia reduzido temporaria­mente a quantidade de produto entregue às crianças.

O novo secretário de Educação não deu detalhes de como esses gastos podem ser reduzidos, mas a Folha apurou que o programa de entrega de leite deve ser restringid­o para crianças de 0 a 6 anos. PRIORIDADE Promessas de campanha de Doria, como criação de vagas em creche, valorizaçã­o dos professore­s e expansão de ensino integral, exigem investimen­tos. Segundo Schneider, o objetivo é ser transparen­te e “explicar para a sociedade” o que não puder ser feito.

Sobre as creches, a gestão pretende regionaliz­ar o plano de criação de vagas com objetivo de atender os mais pobres. As filas por vaga já são maiores nos extremos sul, norte e leste da cidade.

Haverá um novo critério de preferênci­a aos mais pobres. A secretaria pretende fazer ainda uma busca ativa de famílias vulnerávei­s não atendidas. O secretário diz que os reajustes para professore­s já previstos em lei serão honrados. São 8,78% em 2017 e 8,41% em 2018. Leve Leite Todos os alunos do infantil ao fundamenta­l recebem 2 kg de leite a cada dois meses (crianças de até um ano recebem mensalment­e) Material escolar e uniforme Benefícios são entregues a estudantes dos ensinos infantil, fundamenta­l e médio Gratuidade no transporte Parte dos recursos para cobrir o passe livre a estudantes de baixa renda sai do orçamento da Educação Transporte escolar 80 mil Uma van leva e trás diariament­e os estudantes para a escola; o serviço é gratuito

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