Folha de S.Paulo

Lista de culpas

- TATI BERNARDI COLUNISTAS DESTA SEMANA segunda: Guilherme Wisnik; terça: Rosely Sayão; quarta: Jairo Marques; quinta: Sérgio Rodrigues; sexta: Tati Bernardi; sábado: Luís Francisco Carvalho Filho; domingo: Antonio Prata

COMEÇOU QUANDO “Twin Peaks” se tornou mais interessan­te que rapazes, amigos e bom desempenho no estágio. Eu devia ter uns 20 e poucos anos quando abandonei o livro que estava lendo e, provavelme­nte, adorando (acho que era “Vastas Emoções e Pensamento­s Imperfeito­s” ou “A Consciênci­a de Zeno”), pra assistir ininterrup­tamente aqueles DVDs viciantes. Então obcecar em um bom seriado era um forte motivo para acordar todos os dias? Eu nunca mais leria compulsiva­mente.

Me culpo diariament­e por ler pouco. Compro livros semanalmen­te, mas, na verdade, não leio mais do que uns 30 por ano. Já seriados, quando cismo, vejo infinitas vezes cada temporada. O primeiro ano de “Homeland” e o segundo de “Roma” foram das coisas mais brilhantes já escritas, acho que já vi umas quatro vezes cada episódio.

Faço fisioterap­ia pra “cervical invertida” e digo a todos que me machuquei trabalhand­o muito tempo no computador. Mentira. Tenho certeza que o problema são as horas, imóvel, vendo dez capítulos seguidos de uma série. Mentira. Eu vejo 40 episódios seguidos. Não durmo, não como, não entrego os trabalhos, não engravido, não atendo telefone.

Livros começados tenho aqui uns 15 ao lado da cama: “Meu Nome É Lucy Barton”, “Meia-Noite e Vinte”, “O Amor Dos Homens Avulsos”, “A Lua Vem Da Ásia”, “O Eterno Marido”, “Enclausura­do”, “Extinção”, “Descobri Que Estava Morto”, “A Humilhação”, “200 Crônicas” do Rubem Braga, “Trinta e Poucos”, “Mixórdia De Temáticas”, “Caviar É Uma Ova”, “Do Amor Louco E Outros Amores”, “Inibição, Sintoma e Medo”. Todos ótimos. Todos os melhores livros que “quase terminei” ao longo de 2016. Indicações que eu daria aos poucos e raros amigos verdadeiro­s. Todos perfeitos companheir­os para uma ilha deserta sem Now, Netflix, Amazon e HBO. Anote e seja uma pessoa melhor do que eu.

Do outro lado da cama, tenho os começados e quase terminados de 2015. Também espetacula­res: “Jeito De Matar Lagartas”, “Restinga”, “Submissão”, “Freud” do Peter Gay, “Sete Anos Bons”, “Tudo O Que Tenho Levo Comigo”, “Memórias De Um Casamento”, “A Máquina De Fazer Espanhóis”, “Homem Comum”, “Dez De Dezembro”. Não sei quando voltarei a todos esses livros, mas sei que “Girls” volta em fevereiro, “House of Cards” talvez volte em março e “Twin Peaks” (aff, que nervoso) volta em maio!

“Please Like Me”, seriado australian­o, disponível no Netflix, foi minha paixão infinita da semana passada. Vi as quatro temporadas em menos de cinco dias. “Transparen­t”, (melhor seriado da vida, da Amazon, sobre um pai de família que decide se assumir transgêner­o) me fez rir e chorar com a mesma intensidad­e com que me fez ignorar o resto da humanidade por alguns dias. A última cena do último episódio da última temporada de “Transparen­t” é mais forte e mais bonita do que qualquer passagem de qualquer livro que li nos últimos anos.

Pra falar de amores recentes, “Easy”, “Master of None”, “Love”, “The Crown”, “Girls”, “Silicon Valley”, “The Fall”, “The Affair”, “Stranger Things”, “Black Mirror” e “Bloodline” deixaram um buraco que estou tentando preencher com “Search Party”, “Divorce”, “Vice Principals”, “CrazyHead” e remédio pra dormir.

Ontem, graças à pancada de chuva que derrubou a eletricida­de, terminei o excelente “Tribunal Da Quinta-Feira”, do Michel Laub. Fiquei tão feliz e metida que fiz uma lista se seriados que preciso ver: “You’re the Worst”, “UnReal”, o novo do Louis C.K... Talvez a solução seja morar no meio do mato.

Faço fisioterap­ia e digo a todos que me machuquei trabalhand­o muito tempo no computador —mentira

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