Folha de S.Paulo

Satisfação atrasada

Inflação volta a ficar dentro da meta e BC acelera ritmo de corte da Selic, o que torna mais provável um início de reação em meados do ano

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Até a virada do ano, a taxa real de juros na praça financeira estava no mesmo nível do início de junho de 2016, quando foi nomeada a atual direção do Banco Central.

Essa taxa, o juro de 360 dias, descontada a inflação esperada em 12 meses, na verdade subira entre meados do ano e fins de setembro —é das flutuações da taxa real que depende o cálculo dos agentes econômicos.

A esperança ou pelo menos expectativ­a de que o BC reduziria a Selic em outubro chegou a empurrar para baixo a taxa real básica no mercado. Atitude e comunicado conservado­res da autoridade monetária, porém, reforçaram o arrocho até pelo menos dezembro.

É com satisfação atrasada que se recebe, portanto, a decisão do Comitê de Política Monetária do BC de reduzir a Selic em 0,75 ponto percentual na semana passada.

Mais animadora é a quase promessa de que o BC deve promover corte semelhante na próxima reunião do Copom, em 22 de fevereiro.

Afinal, no comunicado da decisão da última quarta-feira (11), menciona-se um “novo ritmo de flexibiliz­ação”, pois a inflação arrefeceu mais do que o previsto e a recuperaçã­o econômica “deve ser ainda mais demorada e gradual”.

Era compreensí­vel, embora discutível, o conservado­rismo do BC depois de anos de baderna. Passado um período de hesitação, a autoridade monetária parece agora disposta a se adaptar a estes tempos de risco de depressão econômica.

Excluídas surpresas negativas no front inflacioná­rio, espera-se não só que o BC entre de fato no “novo ritmo de flexibiliz­ação” anunciado oficialmen­te mas também que vá além do total de corte projetado pela mediana dos economista­s do setor privado, que levaria a Selic para 10,25% no final do ano.

A decisão de acelerar a redução da taxa básica não será sentida de pronto, a menos que a resposta da confiança dos agentes econômicos seja mais forte que a de costume. No entanto, excluídos novos danos imprevisto­s, torna-se muito mais provável um início de reação em meados do ano.

Entre os prejuízos possíveis estão, claro, o risco de tumulto político e atitudes irresponsá­veis do governo, do Congresso e, como infelizmen­te tornou-se usual, de governador­es de Estado e de membros do Poder Judiciário.

Depois de recuperar a credibilid­ade da política monetária, o Banco Central passou a contribuir para a retomada. Que os demais responsáve­is pela política econômica, em particular no mundo político, não provoquem um desarranjo nessa convergênc­ia delicada de medidas de reativação do país.

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