Mosaico fluminense
A imagem da calamidade financeira do Estado do Rio mostrou-se de forma pormenorizada, tal qual um mosaico de horrores, com a posse dos novos prefeitos nos 92 municípios fluminenses.
A maioria das cidades tornouse insolvente e acumulou dívidas com fornecedores e com o funcionalismo ao longo de 2016. Ao menos um terço delas não pagou o 13º nem tinha previsão de fazê-lo, segundo levantamento do jornal “O Globo”. Não por acaso o índice de renovação no Rio chegou a mais de 80% na última eleição.
Na Baixada Fluminense, onde foram registrados 12 assassinatos políticos na campanha, os vitoriosos assumiram acusando o desgoverno de seus antecessores.
Em Nilópolis, Japeri e Mesquita, as sedes estavam abandonadas: sem luz, água, telefone, internet e mobília.
Duque de Caxias, terceira maior cidade do Estado, tinha só R$ 13,29 em caixa, segundo o eleito, Washington Reis (PMDB). O mandatário tem problemas mais prementes, todavia: o Supremo Tribunal Federal o condenou a sete anos e dois meses de prisão em regime semiaberto, por crime ambiental.
Ainda na região metropolitana, São Gonçalo e Nova Iguaçu —segundo e quarto municípios mais populosos do Estado— decretaram calamidade financeira.
Em Santo Antônio de Pádua, o reeleito Josias Quintal de Oliveira (PSB) confiou à providência divina o futuro dos 41 mil habitantes. “Fica entregue a Deus o destino do governo deste município”, publicou no Diário Oficial.
A queda acentuada na arrecadação e a redução do dinheiro dos royalties de petróleo estão entre as causas desse panorama alarmante. A calamitosa gestão do PMDB no Estado também cobrou seu preço nos municípios, com convênios e repasses suspensos.
É impossível, no entanto, dissociar a penúria municipal da irresponsabilidade dos prefeitos que deixaram a situação chegar a esse nível. Diversos deles, exibicionistas e perdulários nos anos de bonança, nem mesmo terminaram os mandatos após a derrota eleitoral.
Seja como for, a demanda por serviços públicos locais aumentará, dado o desemprego e a ruína das instituições estaduais. Cortes de cargos e de despesas, ajuste fiscal e modernização da gestão são imprescindíveis para que as cidades possam voltar a investir.
Ainda não se sabe se o pacote de socorro financeiro que o governo do Rio negocia com a União será modelo para outros Estados. As administrações fluminenses, por sua vez, certamente servem de exemplo —de gestão que jamais deveria se repetir.