Folha de S.Paulo

Erro do passado

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BRASÍLIA - A participaç­ão do Banco do Brasil nas negociaçõe­s para socorrer o moribundo Rio de Janeiro suscita dúvidas.

O banco controlado pelo Tesouro Nacional é hoje o maior credor do governo de Luiz Fernando Pezão. O Estado já deve aos acionistas do BB —entre eles, eu, você e todos os contribuin­tes brasileiro­s— soma superior a R$ 10 bilhões.

Pelo que se sabe até agora, o Banco do Brasil deverá liderar um consórcio de instituiçõ­es financeira­s que concederá um novo empréstimo ao Rio estimado em R$ 7 bilhões. A operação terá o aval do Ministério da Fazenda, e serão dadas como garantias a companhia de água e esgoto do Estado (Cedae) e receita futura de royalties do petróleo.

Em situação de normalidad­e, o ministro Henrique Meirelles não poderia autorizar Pezão a tomar mais recursos porque a classifica­ção de risco do Estado, pela atual métrica do Tesouro, é impeditiva.

Busca-se justificar a medida com o quadro de calamidade do governo falimentar. Usa-se ainda o argumento de que as garantias oferecidas são de boa qualidade, reduzindo as chances de calote.

Se essa última premissa é verdadeira, por que é necessário um banco oficial assumir a linha de frente da operação? Para evitar que os juros e prazo do empréstimo não sejam ultrajante­s? Por que não há no mercado instituiçã­o disposta a entrar num negócio bilionário com cara de roubada? Por que mais uma vez haverá apenas apetite ching ling para a empreitada?

Por que o presidente do BB, Paulo Caffarelli, ao deixar encontro na última semana com a presidente do STF, Cármen Lúcia, disse estar tratando de julgamento de planos econômicos, enquanto nos bastidores assessores afirmam que o assunto foi o caos nas contas do Rio?

Para todas as questões, por ora, uma única resposta: o uso voluntario­so de bancos públicos mostrouse um erro no passado.

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