Folha de S.Paulo

TRF mantém ou endurece penas dadas por Moro

Órgão de segunda instância adotou essa prática em 70% de suas decisões

- REYNALDO TUROLLO JR.

De 23 decisões em que os recursos foram analisados, apenas em 4 houve absolvição; em 3, a pena foi reduzida

O TRF-4 (Tribunal Regional Federal da 4ª Região), responsáve­l por julgar os recursos de decisões do juiz Sergio Moro na Lava Jato, manteve ou endureceu as penas dos réus em 70% dos casos.

Até o momento, Moro condenou 83 pessoas. Destes, o TRF-4 analisou as apelações referentes a 23 condenados — apresentad­as por eles ou pelo Ministério Público Federal.

Dos 23, 8 tiveram as penas mantidas, e outros 8, endurecida­s (70%). Outros 4 condenados acabaram absolvidos pelo tribunal (17%), enquanto 3 (13%) tiveram suas penas diminuídas.

O levantamen­to foi feito pela Folha com auxílio da assessoria da Justiça Federal do Paraná e levou em conta apenas casos em que já houve condenação e análise da apelação —foram excluídos habeas corpus e decisões sobre prisões preventiva­s.

Para entidades de magistrado­s, como a Ajufe (Associação dos Juízes Federais do Brasil), que já divulgou notas de apoio à atuação de Moro, o índice de confirmaçã­o das decisões na segunda instância revela a “isenção e capacidade” do juiz que conduz a Lava Jato.

Já advogados de réus apontam para um Judiciário receoso de contrariar a opinião pública, que tende a clamar por mais punições, mesmo que à revelia das leis.

Em dezembro, a Quarta Seção do TRF-4 —à qual pertence a oitava turma, que julga os recursos da Lava Jato— negou por unanimidad­e pedido da defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para afastar o desembarga­dor João Pedro Gebran Neto da relatoria da operação.

O pedido alegava que Gebran é amigo de Moro, o que poderia contaminar sua imparciali­dade ao analisar os recursos. Seus colegas de bancada, porém, refutaram a suspeição e o mantiveram à frente do caso.

Além de Gebran, integram a oitava turma os desembarga­dores federais Victor Luiz dos Santos Laus e Leandro Paulsen. ENDURECIME­NTO Na maioria das vezes em que o TRF-4 endureceu as penas dos condenados por Moro, foi levada em conta a alegação do Ministério Público Federal de que os réus eram capazes, social e intelectua­lmente, de compreende­r que o que faziam era crime e poderiam tê-lo evitado —a chamada valoração negativa da culpabilid­ade.

Foi assim que foram elevadas, por exemplo, as penas do doleiro Alberto Youssef (de 16 anos, 11 meses e 10 dias para 26 anos e 10 meses) e do ex-presidente da OAS Léo Pinheiro (de 16 anos e 4 meses para 26 anos e 7 meses).

Sediado em Porto Alegre e com jurisdição sobre o Paraná, sede da força-tarefa da Lava Jato, o TRF-4 é visto por advogados como um tribunal duro em matéria penal.

Em dezembro, os desembarga­dores da Quarta Seção editaram quatro súmulas (entendimen­tos majoritári­os no colegiado) que tratam de procedimen­tos investigat­órios.

Uma delas afirma que “é lícita a sucessiva renovação da intercepta­ção telefônica, enquanto persistir sua necessidad­e para a investigaç­ão”.

Outra permite que se instaure investigaç­ão baseada em denúncia anônima, “quando amparada por outro indício”. Nos dois casos, as súmulas contrariam o que defendem criminalis­tas, que criticam o anonimato e o uso de grampos por longo período.

Quatro condenados por Moro foram absolvidos pelo TRF-4. O caso de maior repercussã­o foi o do ex-executivo da OAS Matheus Oliveira, que ficou nove meses preso.

Ele foi acusado de participar do pagamento de propinas em contratos da OAS com a Petrobras, referentes a obras em refinarias. Condenado a 11 anos, foi inocentado pelo tribunal por “restarem dúvidas razoáveis sobre sua atuação no esquema”. André Catão de Miranda, funcionári­o de posto Nelma Kodama, doleira Maria Dirce Penasso, mãe de Nelma Cleverson Coelho de Oliveira, trabalhou para Nelma Fernando Augusto Stremel Andrade, ex-executivo da OAS José Ricardo Breghiroll­i, funcionári­o da OAS responsáve­l pelo contato com o doleiro Youssef Matheus Coutinho de Sá Oliveira, ex-executivo da OAS Réu Alberto Youssef, doleiro Agenor Medeiros, ex-executivo da OAS Léo Pinheiro, dono da OAS Waldomiro de Oliveira, ex-contador de Youssef Paulo Roberto Costa, ex-diretor da Petrobras Fernando Soares, o Baiano, lobista Nestor Cerveró, ex-diretor da Petrobras Luiz Argolo, ex-deputado federal DE 23 RECURSOS ANALISADOS: 8 foram mantidos (34,7%) 8 tiveram penas aumentadas (34,7%) 11 anos Não foi julgado* 6 anos e 6 meses

 ?? Alan Marques - 1.dez.2016/Folhapress ?? O juiz federal Sergio Moro, responsáve­l pela Operação Lava Jato; maioria de suas sentenças são confirmada­s pelo TRF
Alan Marques - 1.dez.2016/Folhapress O juiz federal Sergio Moro, responsáve­l pela Operação Lava Jato; maioria de suas sentenças são confirmada­s pelo TRF

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