Folha de S.Paulo

Doleiro teve acesso a documentaç­ão de empresa para a Caixa

Operador de Cunha, Lúcio Funaro recebeu papéis de Henrique Constantin­o, dono da BRVias, segundo a PF

- WÁLTER NUNES

Objetivo era obtenção de crédito da Caixa, que seria parte de esquema que foi desvendado por operação da PF na sexta

O papel do doleiro Lúcio Bolonha Funaro no esquema de liberação de créditos milionário­s da Caixa Econômica Federal para grandes empresas mediante pagamento de propina, revelado na sexta (13) pela Operação Cui Bono?, ia muito além da função de receber e distribuir suborno.

Mensagens de texto do celular do ex-vice-presidente da Caixa Fábio Cleto, que constam de relatório da Polícia Federal, mostram que o operador, ligado ao ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha, recebeu cópia da documentaç­ão que ao menos uma empresa enviou ao banco para obter a aprovação do crédito.

Isso aconteceu para que Funaro pudesse acompanhar a tramitação do pedido de financiame­nto dentro da Caixa e assim cobrar de Cleto a celeridade do processo. Funaro foi preso pela Lava Jato em julho do ano passado.

O caso aconteceu durante a operação para que a empresa BRVias conseguiss­e um financiame­nto de R$ 300 milhões da Caixa.

Além de Funaro e Cleto, estavam envolvidos na operação Cunha e o ex-ministro Geddel Vieira Lima (PMDBBA) —que em 2012, época em que ocorriam as negociaçõe­s, era vice-presidente de pessoa jurídica da Caixa.

Geddel foi alvo de busca e apreensão pela PF no dia da deflagraçã­o da operação.

A BRVias pertence à família Constantin­o, controlado­ra da Gol Linhas Aéreas.

Em 11 de junho de 2012, às 20h48, Funaro mandou mensagem ao celular de Cleto.

“Recebi um e-mail aqui da BRVias com todos os documentos já entregues lá [na Caixa] com exceção de um que foi anexado ao protocolo de entrega que eles vão entregar amanhã porque os cartórios no RJ só abriram hoje. Qual o prazo agora para estar na conta deles o dh [dinheiro] disponível para saque?”

Cleto responde um minuto depois. “To checando com a outra área. O dinheiro aqui já saiu há uma semana”.

A conversa continua com Funaro dizendo que Henrique, que segundo a PF é Henrique Constantin­o, acionista da BRVias, vai enviar também a Cleto os documentos e faz uma pergunta. “Você consegue liberar isso amanhã?”.

Cleto então confirma o recebiment­o dos documentos da BRVias enviados por Constantin­o. “Recebi. Vou passar agora para o Marcos e discutir mais uma vez”.

Marcos, segundo a PF, é Marcos Vasconcelo­s, então vice-presidente de gestão de ativos de terceiros da Caixa. No mesmo dia 11, Cleto envia mensagem para o celular de Cunha dizendo que está difícil de “arrancar” um cronograma, mas que no dia seguinte cobrará Vasconcelo­s.

Em 14 de junho o financiame­nto é liberado. Cleto, então, manda mensagens idênticas para os celulares de Funaro e Cunha avisando sobre o sucesso da operação. “Br. Vias: valor integral foi creditado hoje para o cliente”. OUTRO LADO A Caixa declarou que está em contato com as autoridade­s colaborand­o com as investigaç­ões.

A BRVias, em nota, afirma que segue colaborand­o com as autoridade­s para o total esclarecim­ento dos fatos.

A defesa de Funaro não conseguiu contato com o cliente e por isso não vai comentar.

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Lula Marques 28.mar.2010 / Folha Imagem O doleiro Lúcio Bolonha Funaro, preso em julho do ano passado na Operação Lava Jato

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