Países mandam recado sobre paz no Oriente Médio a Trump e Israel
A dias da posse do presidente eleito dos EUA, diplomatas pedem retomada das negociações
Novo governo dos EUA pode tomar medidas vistas como danosas ao processo de paz, como transferir a embaixada
Chanceleres e diplomatas de 75 países se reuniram neste domingo (15) em Paris para tentar reacender o processo de paz entre israelenses e palestinos, apesar do balde de água fria simbolizado pela ausência tanto de Israel e quanto da Autoridade Nacional Palestina.
A conferência de paz, realizada cinco dias antes da posse de Donald Trump, presidente eleito dos EUA, tentou enviar uma derradeira mensagem de otimismo em relação a um dos conflitos centrais do Oriente Médio.
O governo de Trump pode tomar uma série de medidas vistas como danosas a essas negociações, como mover a embaixada americana de Tel Aviv para Jerusalém.
O encontro foi encerrado às 17h30 locais (14h30 em Brasília) com uma declaração conjunta pedindo que as lideranças dos países reafirmassem seu comprometimento com uma solução de dois Estados ao conflito.
A nota final também insistiu na necessidade de negociações diretas entre as partes envolvidas e uma nova conferência até o fim do ano para “revisar o progresso”
O Brasil foi representado por Paulo Cesar de Oliveira Campos, embaixador em Paris, informou o Itamaraty.
O encontro deste domingo foi iniciado por comentários de Jean-Marc Ayrault, chanceler francês, que afirmou não haver solução ao conflito a não ser a proposta de criar dois Estados separados.
Ele disse estar ciente das reservas sobre a conferência, em uma mensagem a Israel.
Binyamin Netanyahu, premiê israelense, apresentou nos últimos dias fortes objeções à realização dessas negociações.
Em reunião com seu gabinete, ele afirmou que a conferência era “fútil” e que pertencia ao “mundo de ontem”. “O amanhã será diferente”, disse o premiê.
Mais de mil pessoas se reuniram diante da embaixada israelense em Paris para protestar contra a conferência de paz, afirmando que esse encontro tinha por objetivo ferir a posição do país. EMBAIXADA Quando Trump assumir a Presidência, dia 20, a posição de Netanyahu deve fortalecer-se. A transferência da embaixada a Jerusalém, de grande simbolismo, seria uma vitória de Israel.
O escritório diplomáticodos EUA está em Tel Aviv há 68 anos. O status de Jerusalém como capital israelense é controverso.
Ayrault, chanceler francês, afirmou que a possível decisão de mover a embaixada seria uma “provocação” e que teria “consequências”.
Mahmoud Abbas, presidente palestino, escreveu a Trump afirmando que essa mudança destruiria o processo de paz e impediria que os EUA continuassem a ser um mediador no Oriente Médio.
As relações entre EUA e Israel se deterioraram nos últimos anos, durante o governo de Barack Obama, chegando a um ponto baixo em dezembro quando Washington decidiu não vetar uma resolução das Nações Unidas que exigia fim dos assentamentos israelenses na Cisjordânia.
A expansão dos assentamentos israelenses nesse território —conquistado por Israel na guerra de 1967— são considerados um dos principais entraves às negociações. Essa posição foi reafirmada em Paris.
John Kerry, secretário de Estado americano, comuni- cou no entanto a Netanyahu durante o domingo que a conferência de Paris não levaria a outras medidas na ONU, segundo informações de um jornal israelense.
O presidente francês, François Hollande, disse que, além dos assentamentos, o diálogo é ameaçado pelos “terroristas que sempre temem a paz”, referindo-se a extremistas palestinos, como aqueles da facção radical Hamas, na faixa de Gaza.
Os países presentes condenaram também, no comunicado final da conferência em Paris, qualquer incitamento à violência.