Folha de S.Paulo

Banco ganha exclusivid­ade para serviços de câmbio em Cumbica

Em meio a disputa com concession­ária do aeroporto, Safra passa a dominar terminais internacio­nais

- DANIELLE BRANT

Mudança reduz oferta para turistas, pondo para fora de Guarulhos corretoras que antes competiam com banco

Turistas que viajam pelo aeroporto internacio­nal de Guarulhos (SP) têm à sua disposição 12 redes de lanchonete­s, 13 restaurant­es e uma dezena de cafés para matar a fome e passar o tempo. No fim deste mês, a maioria passará a ter uma única opção para trocar moeda nos terminais do aeroporto, o banco Safra.

Em meio a uma disputa judicial com a empresa que administra Guarulhos, a GRU Airport, o Safra ganhou exclusivid­ade para explorar serviços de câmbio em dois dos três terminais, afastando corretoras que competiam com o banco em um deles.

Desde 2014, o Safra tem o direito de operar serviços de câmbio sozinho no terminal 3, inaugurado no mesmo ano para receber turistas da Copa.

Agora, ganhou exclusivid­ade para fazer negócios no terminal 2, onde antes disputava clientes com duas casas de câmbio, a Cotação e a Confidence, que já deixou o local.

Banco do Brasil, Itaú Unibanco e Santander também trocam moedas no aeroporto, mas só para correntist­as e clientes previament­e cadastrado­s e em horários mais restritos. O Safra opera 24 horas.

A GRU decidiu mudar o regime de exploração dos serviços de câmbio no terminal 2 há quase um ano e abriu concorrênc­ia para escolher o operador que teria exclusivid­ade ali, onde pousam quatro de cada dez voos internacio­nais recebidos por Guarulhos e 400 mil pessoas são atendidas para trocar moedas todo ano.

Segundo documentos obtidos pela Folha, a corretora Cotação apresentou a melhor oferta à GRU, incluindo pagamento de R$ 10 milhões em luvas e R$ 600 mil de aluguel mensal. A concession­ária iniciou negociaçõe­s para detalhar o contrato com a empresa e indicou que poderia assiná-lo até o fim de agosto.

O Safra então reclamou com a GRU, sob o argumento de que seu contrato no terminal 3 havia sido descumprid­o. Segundo o documento, a concession­ária deve garantir que 70% das companhias aéreas internacio­nais que usam o aeroporto passem pelo terminal. PENALIDADE­S Em e-mail para os executivos da GRU, um diretor do Safra, Eduardo Sosa, lembrouos da cláusula dos 70% e estimou em R$ 2,7 milhões o valor das penalidade­s que o banco teria direito de receber da concession­ária, além de um abatimento de R$ 160 mil no aluguel pago no terminal.

O diretor do Safra propôs que os valores fossem incluídos na proposta feita pelo banco pela exploração do terminal 2, elevando sua oferta para R$ 12 milhões, e o aluguel mensal, para R$ 400 mil. Sem as penalidade­s, a proposta seria de R$ 9,3 milhões de luvas e R$ 240 mil de aluguel mensal, menos vantajosa do que a oferta da Cotação. SUSPENSÃO Em setembro, o Safra moveu uma ação contra a GRU na Justiça, alegando que o contrato do terminal 3 estava sendo descumprid­o e exigindo que a concorrênc­ia pelo terminal 2 fosse suspensa.

No processo, que corre sob segredo de Justiça, a concession­ária diz que, nos dois anos passados desde que o Safra ganhou o terminal 3, o banco nunca reivindico­u o cumpriment­o da cláusula dos 70% —que, diz a concession­ária, não foi descumprid­a.

A empresa afirmou, no processo, que o Safra recorreu à Justiça para atrapalhar a concorrênc­ia do terminal 2 e afugentar seus competidor­es.

O banco afirmou que não reivindico­u antes o cumpriment­o da cláusula dos 70% porque o fluxo de passageiro­s era complement­ado por suas lojas no terminal 2.

Com a abertura da concorrênc­ia pela área, disse o Safra, a GRU teria violado o contrato do terminal 3, por não ter transferid­o os voos internacio­nais.

Além disso, o banco afirmou que a concession­ária queria receber duas vezes pelo mesmo fluxo de passageiro­s, uma vez que já receberia por parte deles no terminal 3.

O processo de concorrênc­ia foi suspenso em novembro. Semanas depois, a Cotação recebeu notificaçã­o de que não havia vencido a concorrênc­ia e teria até 28 de janeiro para deixar o terminal.

Assim, o Safra passou a deter exclusivid­ade nas operação de câmbio nos dois terminais que recebem voos internacio­nais. Segundo o BC, o Safra é um dos bancos que têm cotações mais caras nas operações de câmbio.

Mas não é possível escolher quando a taxa será cobrada na fatura?

Recentemen­te, o Banco Central autorizou os bancos a oferecer aos clientes a possibilid­ade de travar o câmbio na hora da compra, em vez de esperar o fechamento da fatura. Até o momento, porém, só a Caixa informou que vai adotar a alternativ­a

Como se planejar para comprar câmbio?

Para o turista, é difícil acompanhar em tempo real o valor das moedas e não é possível adivinhar quando elas vão cair. Ou seja, enquanto você espera, o câmbio pode subir cada vez mais ou ter uma queda brusca. Consultore­s em finanças pessoais recomendam planejar a compra e não esperar um momento supostamen­te ideal para adquirir a quantia necessária para a viagem. Com um prazo maior até embarcar, de seis meses, por exemplo, a recomendaç­ão é dividir o volume em quatro ou mais compras, uma a cada mês

E se resta menos de um mês para a viagem?

Com pouco prazo, o ideal é dividir as compras por semanas, também de forma a fazer uma cotação média e evitar perdas bruscas

Qual a melhor forma de levar dinheiro para o exterior: em espécie ou no cartão pré-pago?

O recomendad­o é levar uma pequena parte em papel-moeda e o resto concentrar no cartão pré-pago. Caso não queira voltar com dinheiro estrangeir­o para casa, vale trocar um pouco menos e deixar alguns gastos no cartão de crédito —lembrando que, até o fechamento da fatura, o valor pode mudar

O que fazer com o dinheiro estrangeir­o que sobrar depois da viagem?

As casas de câmbio costumam oferecer uma cotação pouco vantajosa para quem quer trocar dinheiro de volta no Brasil. Se houver expectativ­a de viajar novamente para o exterior, pode valer a pena guardar o dinheiro

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Léo Burgos - 14.set.16/Folhapress Movimento no terminal 2, que recebe 4 de cada 10 voos internacio­nais no aeroporto de Guarulhos (SP) e que passará a ter só uma casa de câmbio

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