Dois terremotos de 2016 pesaram fortemente para alterar a agenda convencional de Davos-2017: o “brexit”, o voto
ENVIADO ESPECIAL A DAVOS
O Fórum Econômico Mundial de Davos, o convescote anual da elite planetária, vai, a partir desta segundafeira (16), colocar o capitalismo no divã.
A principal evidência de que estão perplexos os capitalistas, que formam a nata dos que se encontram todo janeiro na cidadezinha suíça encravada nos Alpes, é a divulgação nesta segunda, véspera do início oficial do Fórum, de um relatório que propõe “uma nova agenda de crescimento e desenvolvimento”.
Não, não sai o mercado —a força que hoje monopoliza a agenda—, mas entra o “povo”, palavra que raramente frequenta Davos.
Diz o texto do Fórum que é preciso colocar “padrões medianos de vida —isto é, o povo— no centro das estratégias nacionais de desenvolvimento e da integração econômica internacional”.
Não se trata de jogar fora o receituário tradicional, dito neoliberal, caracterizado pelo predomínio avassalador dos mercados, pela austeridade e pelo livre-comércio.
Mas se trata de equilibrar melhor as coisas, incluindo na receita “esforços combinados para difundir oportunidades, renda, segurança e qualidade de vida, isto é, padrões de vida como parte do processo de crescimento”.
Que o receituário hoje hegemônico não está funcionando direito assinala-o até Klaus Schwab, o criador do Fórum Econômico Mundial e, como tal, anfitrião das mais de 3.000 personalidades que se reunirão em Davos.
“Está claro que, hoje, as coisas não estão indo bem para essa visão aberta e pragmática de progresso. Líderes têm sido demonizados como ‘a elite’. Interdependência é vista como fraqueza. O nacionalismo foi reciclado para forjar novas e mais duras identidades. A retórica antiglobalização está ameaçando a economia colaborativa e as estruturas comerciais que trouxeram tanto progresso ao integrar o mundo em desenvolvimento com o desenvolvido”, escreveu para o “Financial Times”. TERREMOTOS dos britânicos para deixar a União Europeia, e a vitória de Donald Trump, que toma posse justamente no último dia do encontro do Fórum (sexta-feira, 20).
Era inevitável levar capitalismo e sua expressão política, a democracia, ao divã, do que dão provas inúmeras das sessões marcadas para o evento de Davos.
Duas delas bastam para indicar o espírito da coisa: “Repensando