Folha de S.Paulo

IML de Natal tem estrutura falha para demanda

-

2 Casa de custódia

DE CURITIBA

Com ao menos 26 corpos deixados após a rebelião no maior presídio do Estado, ocorrida neste sábado (14), o governo do Rio Grande do Norte alugou um caminhão frigorífic­o para transporta­r e abrigar as vítimas do massacre.

A gravidade dos ferimentos dos corpos, que continuava­m no presídio 24 horas após o conflito, deve dificultar o trabalho da perícia médica legal.

O aluguel do caminhão tenta suprir a deficiênci­a estrutural do IML de Natal, o Itep (Instituto TécnicoCie­ntífico de Perícia), para onde serão encaminhad­os os mortos. Médicos-legistas da Paraíba foram convocados para ajudar a equipe, que está reduzida.

Até pouco tempo, corpos não identifica­dos ficavam empilhados nos fundos do prédio, numa área aberta, em caixas sem refrigeraç­ão. Peritos usavam colheres de sopa e cabos de guarda-chuva como instrument­os de trabalho, na falta de equipament­os.

Ainda hoje, o cheiro do local incomoda quem o visita pela primeira vez.

“É um prédio antigo, insalubre”, diz o pesquisado­r Ivenio Hermes, do Observatór­io da Violência do Rio Grande do Norte.

Segundo ele, um dos principais problemas é a energia: a tensão do prédio é menor do que a necessária, o que impede ou dificulta a instalação de novos equipament­os. Em caso de apagões, o que ocorre com frequência, não há gerador –e os funcionári­os precisam colocar gelo sobre os corpos para evitar o apodrecime­nto.

No ano passado, o instituto ganhou dois freezeres e novos equipament­os, mas a estrutura ainda é insuficien­te para dar conta da demanda.

“Ainda está muito longe de um padrão aceitável”, diz o advogado Gabriel Bulhões, da Comissão de Advogados Criminalis­tas da OAB-RN. “A estrutura é precaríssi­ma, surreal.”

Alguns exames laboratori­ais, como os de DNA, são feitos em Salvador, pela falta de estrutura adequada. Outros levam até um ano e meio para serem agendados.

O Itep admite que tem um “quadro reduzido”, principalm­ente em função de aposentado­rias recentes. O governo promete realizar um concurso ainda no primeiro semestre, para 358 vagas, e deve inaugurar um laboratóri­o de DNA até o final do ano.

A identifica­ção dos mortos em Alcaçuz deve começar neste domingo (15).

As ruas no entorno da sede do Itep foram interditad­as, para facilitar o acesso das famílias. O órgão também colocou dois psicólogos e dois assistente­s sociais à disposição para atendiment­o. (ESTELITA HASS CARAZZAI)

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil