Doria, não perca o foco no ônibus
ENTRE TANTOS problemas neste início de ano, uma boa notícia foi o custo do congelamento da tarifa de ônibus na cidade de São Paulo: R$ 400 milhões, anunciou a administração municipal ao concluir o cálculo da despesa de manter o preço do bilhete único até o fim de 2017.
Se você se lembra, a administração Haddad, a Câmara Municipal e outros descontentes anunciaram que a promessa, feita pelo prefeito Doria logo após a eleição, custaria entre R$ 1 bi e R$ 1,2 bilhão. Bem menor, o valor anunciado é metade da economia que pode ser obtida com a eliminação de cobradores.
Há muitos interesses contrariados pela manutenção da tarifa de ônibus de São Paulo: do PT (gostaria que Haddad tivesse congelado a tarifa, mas ele não o fez); outros prefeitos da Região Metropolitana (cujo assalto ao contribuinte fica evidente quando a maior cidade tem a menor tarifa); empresários que exploram ônibus nas cidades onde não há subsídio à passagem (temem congelamentos semelhantes); e o sempre biruta Movimento Passe Livre (ataca a administração que congela tarifa e preserva as que aumentam, mesmo de esquerda); entre outros que pouco se lixam com o usuário de transportes públicos.
Há ainda o Poder Judiciário, que invade competências do Executivo em busca de “proatividade”.
De todas as missões da administração paulistana, nada é tão essencial ou urgente quanto os transportes públicos. As prioridades da administração Doria devem ser: ônibus, ônibus e ônibus, “não necessariamente nessa ordem” (como gostam de brincar os jornalistas)... As urgências: 1) há uma licitação em curso, iniciada por Haddad, para implantar uma nova rede com novidades boas, mas também vários problemas, como o tempo de vigência (20 anos renováveis por mais 20), que o Tribunal de Contas do Município (TCM) exige reduzir. Doria deve resolver logo os defeitos para liberar a licitação, reduzir custos e melhorar a qualidade do sistema;
2) em seguida deve se dedicar a acelerar a implantação de corredores de ônibus, que têm uma evolução sempre lenta nesta cidade. O prefeito Haddad, que prometeu inaugurar 150km, terminou o mandato com cerca de 35km, iniciados pelo antecessor, Gilberto Kassab. Os processos travaram na resistência de comerciantes e moradores; em problemas com desapropriações e questionamentos do TCM. A Prefeitura precisa garantir um fluxo mais rápido para esses projetos para melhorar o desempenho dos coletivos e reduzir custos (ônibus mais velozes permitem a redução de veículos sem prejuízo para o usuário).
3) Eliminação dos cobradores: como jabuticaba, essa função só existe no Brasil; no resto do mundo, a tecnologia tornou desnecessária, como ascensoristas e telefonistas. O custo desses funcionários é cerca de R$ 800 milhões/ano, duas vezes o do congelamento.
Por fim, o novo prefeito poderá adotar uma medida de impacto, que depende de extrema ousadia política: o pedágio urbano, sempre impopular no início (os usuários de carros se sentem lesados e esperneiam). A receita deve ser usada integralmente para subsidiar o Bilhete Único e aumentar a rede de transportes públicos.
Com essas medidas, em pouco tempo a cidade deve ter, realmente, uma mobilidade digna de Primeiro Mundo, como São Paulo gosta de ser.
Boa notícia: congelamento custará menos; agora é preciso focar em qualidade e, talvez, pedágio urbano