Governo de SP ‘exportou’ PCC para outros Estados ao transferir presos
Segundo Ministério Público, governo tentava desarticular movimento que crescia nos presídios
Em 2014, 26% dos afiliados da facção criminosa eram de fora do Estado; hoje, esse índice chega a 64%
A organização criminosa PCC surgiu em 1993 num presídio de segurança máxima de Taubaté, no interior paulista. Cerca de 23 anos depois, possui ramificações em todos os Estados brasileiros, com mais ou menos força.
O crescimento espantoso possui várias explicações, mas não há como ignorar o fato de que ele foi facilitado por uma polêmica política de transferência de presos perigosos. São Paulo exportou o PCC para outras regiões do país.
Segundo o Ministério Público de SP, em outubro de 2014, a facção tinha cerca de 10 mil criminosos afiliados, 26% deles fora do Estado. Hoje, quando trava uma guerra com outras quadrilhas para dominar rotas e monopolizar o tráfico de drogas no país, possui cerca de 21,5 mil “batizados”, 64% deles para além da fronteira original.
Os dados são naturalmente imprecisos, dada a óbvia dificuldade para apurá-los, mas incontáveis escutas telefônicas mostram a intenção estratégica da facção de se espalhar pelas cinco regiões do Brasil —o PCC já “batizou” cerca de 3,5% da população carcerária, calculada em torno de 607 mil pessoas. Parece pouco, mas é quase o número total de funcionários da Volkswagen no Brasil.
“deveria ter reprimido a facção em vez de transferir o problema para outros lugares. A medida facilitou a expansão do PCC
MIGRAÇÃO O início do processo de migração do PCC, no entanto, foi estimulado irrefletidamente pelo governo paulista que, na tentativa de desarticular o movimento que ganhava força nos presídios do
MÁRCIO CHRISTINO
Procurador Estado, transferiu em 1998 os seus cabeças para o Paraná, numa operação cercada de discrição. “O efeito foi o contrário”, diz o promotor Lincoln Gakiya, que atua na região Oeste do Estado.
José Márcio Felício, o Geleião, e César Augusto Roris da Silva, o Cesinha, estavam entre os transferidos.