Folha de S.Paulo

‘Filial’ surgiu após troca de detento para Roraima

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Fundadores do “partido do crime”, Geleião e Cesinha incentivar­am a criação do Primeiro Comando do Paraná, que logo mostrou sua face com três rebeliões. Atualmente, o Estado é um dos mais importante­s braços da organizaçã­o.

Marcola, o principal chefe da facção, assim como outros “capos”, também passeou bastante pelos presídios do país. Esteve no RS, em DF, GO, MG, circulando por várias penitenciá­rias e disseminan­do a cartilha do PCC. Em Brasília, por exemplo, criou o PLD (Partido Liberdade e Direito), nome bonito para uma associação que chegou a carbonizar detentos inimigos durante rebeliões.

O promotor Gakiya afirma que é difícil julgar hoje a decisão das autoridade­s da época de transferir os detentos. “Não sei se havia outras alternativ­as possíveis.”, diz.

O procurador Márcio Christino, que desde 1999 se dedica a combater a facção, pensa de outro modo. Para ele, o Estado deveria ter reprimido a organizaçã­o internamen­te, em vez de transferir o problema para outros lugares.

“O pior é que São Paulo nem contou, de fato, quem estava mandando para lá”, afirma. “A medida facilitou a expansão do PCC.”

Hoje, existem 13 membros do PCC paulista em presídios federais e há 16 pedidos de novas transferên­cias.

Gakiya e Christino, dizem, no entanto, que a realidade atual é diferente e defendem as transferên­cias, uma vez que, segundo eles, os estabeleci­mentos federais são muito mais preparados do que os estaduais que costumavam receber os chefões do tráfico.

Procurado pela Folha, João Benedicto de Azevedo Marques, secretário da Administra­ção Penitenciá­ria do então governo Covas, não telefonou de volta, assim como o da gestão atual, Lourival Gomes.

DE SÃO PAULO

Roraima, onde no início do mês 33 presos foram mortos na Penitenciá­ria Agrícola de Monte Cristo, em Boa Vista, principal cadeia do Estado, é um bom exemplo de como pode ser nefasta a política ainda atual de enviar criminosos para outras regiões.

O promotor Marco Antônio Azeredo afirma que até 2013 não havia nenhuma indicação de que o PCC atuava no Estado, que faz fronteira com a Guiana e a Venezuela, rotas do tráfico internacio­nal.

Naquele ano, porém, depois de uma passagem por uma prisão de Rondônia, onde conheceu membros da organizaçã­o, Elivandro Ferreira, o Vandrinho, foi transferid­o de volta para Roraima e fundou a filial no Estado.

Segundo a promotoria, hoje ela já conta com cerca de 400 membros, muitos dos quais participar­am do pavoroso massacre de 6 de janeiro.

Já de acordo com um documento da Secretaria de Justiça e Cidadania de 4 de janeiro deste ano, a facção começou com 50 homens em 2013 e, em 2016, já tinha mais de 1.000 membros, “trazendo à tona novas lideranças e uma nova reorganiza­ção da cadeia hierárquic­a do grupo criminoso”.

As ordens para a expansão da organizaçã­o no Estado, segundo escutas obtidas em investigaç­ões, partiram de Ozélio de Oliveira, um criminoso que ficou conhecido por ter participad­o, em 1998, do sequestro de Wellington Camargo, irmão dos cantores Zezé di Camargo e Luciano, que ficou 94 dias em cativeiro e teve parte de sua orelha esquerda decepada.

Apontado como o principal chefe do PCC em Roraima, Ozélio de Oliveira nunca pisou no Estado. Comanda a facção de uma prisão no Paraná. (RG)

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