Folha de S.Paulo

LINH ADO TEMP ODA MACONH AM EDICINAL

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Nov.2013

Após ver informaçõe­s na internet sobre testes com canabidiol, um dos derivados da maconha, a família da brasileira Anny Fischer, que sofre de uma síndrome rara, decide importar dos Estados Unidos um óleo rico na substância para a criança

Mar.2014

Uma das tentativas de importação falha e o canabidiol é barrado na alfândega. A família conta sua história a um jornalista, que lança o documentár­io “Ilegal” sobre o caso

Abr.2014

A família de Anny consegue laudo médico da USP de Ribeirão Preto e entra na Justiça para conseguir importar o produto. O pedido é aprovado. Após o caso, Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) passa receber mais pedidos de autorizaçã­o para importação de produtos à base de canabidiol

10.out.2014

Conselho Regional de Medicina de São Paulo autoriza a prescrição de canabidiol no Estado

11. dez.2014

Conselho Federal de Medicina autoriza médicos a prescrever­em o canabidiol, mas somente para crianças com epilepsia e que não tenham tido sucesso em outros tratamento­s

15.jan.2015

Anvisa libera uso medicinal de produtos à base de canabidiol, um dos derivados da maconha, retirando-o de uma lista de substância­s proibidas e colocando-o em uma lista de substância­s controlada­s

Mar.2015

Cresce volume de decisões judiciais que obrigam a União a fornecer o canabidiol a pacientes com diferentes tipos de crises convulsiva­s, não apenas as epiléticas

23. abr.2015

Anvisa simplifica regras para importação de produtos à base de canabidiol e cria lista de produtos que podem ter facilitado processo de autorizaçã­o para importar

Ago. e set.2015

STF começa a discutir se é crime portar drogas para uso próprio. Julgamento, no entanto, foi suspenso após pedido de vistas do ministro Teori Zavascki

21.mar.2016

Após determinaç­ão judicial, Anvisa publica resolução que autoriza prescrição e importação de medicament­os com THC, um dos princípios ativos da maconha. Antes, essa substância fazia parte da lista daquelas que não poderiam ser objeto de prescrição médica e manipulaçã­o de medicament­os no país

22.nov.2016

Anvisa aprova critérios para uso de medicament­o à base de maconha e abre espaço para que medicament­os à base da planta possam obter registro para venda no país

Nov. e dez. 2016

Três famílias, duas do RJ e uma de SP, conseguem habeas corpus que as permitem plantar e extrair óleo de maconha para uso medicinal e próprio

Em uma audiência na Justiça, a bancária Maria Aparecida de Carvalho, 49, não hesitou. “Falei: Excelência, eu já estou plantando. E não me sinto criminosa por isso”. A planta em questão, mantida em casa,éa Cannabis, cujo cultivo é proibido pela lei brasileira.

É a harle-tsu —variedade da maconha com maior concentraç­ão de canabidiol, substância conhecida por efeitos terapêutic­os e por não gerar efeito psicoativo— que vem o óleo artesanal extraído por ela para o tratamento da filha Clarian, 13.

A menina sofre com síndrome de Dravet, doença rara que provoca epilepsia, com risco de complicaçõ­es graves.

No fim de dezembro, a Justiça fez com que a família de Clarian fosse uma das primeiras do país a conseguir um habeas corpus que os autoriza a cultivar maconha para uso próprio e medicinal.

A medida impede autoridade­s policiais de efetuar prisão em flagrante ou apreender e destruir as plantas, ações previstas na legislação.

“Não há a menor dúvida que o semear, cultivar e dispor da planta por esta família nada tem a ver com o tráfico”, escreveu no despacho o juiz Antônio Patino Zorz, da Corregedor­ia de Polícia Judiciária de São Paulo.

A decisão ocorreu poucos dias depois de duas outras famílias, também com crianças que sofrem de doenças raras, terem obtido aval semelhante —e aberto caminho para que mais pessoas façam o mesmo.

Segundo o advogado Emílio Figueiredo, da Rede Jurídica pela Reforma da Política de Drogas, essas foram as primeiras autorizaçõ­es do gênero.

Até então, a maioria das ações judiciais relativas ao uso medicinal da maconha envolvia pedidos para que o Estado fornecesse produtos à base de Cannabis feitos no exterior.

Desde 2014, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária tem autorizado, caso a caso, a importação de alguns desses itens com laudo e receita médica. Mas os custos ainda são considerad­os altos —em alguns casos, chegam a US$ 1.500 (R$ 4.800) por mês.

“Como professor, não tenho como pagar isso”, diz Alexandre Meirelles, 49.

Sem ter como custear o produto, ele conseguiu na Justiça que o governo do Rio fornecesse à família o canabidiol para o filho Gabriel, 14, que sofre de epilepsia severa.

O produto não veio. “O Estado alega que não tem dinheiro, que está em crise. Já estou esperando há um ano e cinco meses, mas a doença não espera. Tive que fazer alguma coisa”, relata, sobre a iniciativa de cultivar a Cannabis. RISCO Em novembro, a família dele e de Margarete Brito, 44, ambas do Rio, também conseguira­m o salvo-conduto para cultivar a maconha.

“Se o Estado não pode cumprir esse papel, ele tem que permitir ao menos que nós façamos”, diz Margarete, também presidente da Associação de Apoio à Pesquisa e Pacientes de Cannabis Medicinal.

Há dez meses, ela mantém vasos da planta, cujo extrato é usado para tratar a filha Sofia, 8, que tem a síndrome CDKL5, doença rara que causa epilepsia. Margarete aprendeu pela internet e com outros cultivador­es a extrair o óleo.

Em geral, o receio de ter as plantas apreendida­s foi o que motivou as famílias a tentar obter o salvo-conduto. A lei não diferencia a quantidade entre tráfico e consumo.

“E se chegar alguém aqui, vão destruir? Tenho que garantir o direito da minha filha”, diz Maria Aparecida.

Segundo ela, desde que a filha Clarian começou a tomar gotas do óleo, em 2014, as crises diminuíram 80%. “Antes, duravam até uma hora. Agora, ela volta em minutos.”

Para Margarete, apesar das decisões abrirem caminho para apoio ao cultivo medicinal, ainda há impasses. “Mesmo que outras famílias entrassem com habeas corpus, elas teriam que importar ilegalment­e a semente”, diz. E foi exatamente isso que ela fez. Há vários métodos diferentes para extrair o óleo artesanal usado no tratamento. Em um deles, depois de cultivada, ramos da planta com as flores são colhidos e colocados para secar em local seco e escuro Após estarem secas, flores são trituradas. Pó derivado desse processo é misturado a óleo de soja orgânico extravirge­m e óleo de coco Mistura é colocada em panelas ou chapas específica­s, onde é submetida à temperatur­a de 104°C por quatro horas Para analisar quantidade de canabinóid­es, famílias têm levado o óleo ao Farmacanna­bis, projeto da UFRJ que visa analisar os extratos produzidos a partir da planta ou óleos importados e acompanhar evolução do tratamento

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Ricardo Borges/Folhapress Alexandre e Fátima Meirelles passaram a cultivar maconha para tratar o filho Gabriel

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