Folha de S.Paulo

Corrupção sem fronteiras

-

BRASÍLIA - Um dos símbolos mais conhecidos do poder é o Rolls-Royce preto que transporta os presidente­s da República. Comprado em 1953, o conversíve­l sai da garagem nos dias de posse e nos desfiles de Sete de Setembro. Em outros tempos, já deu carona à rainha Elizabeth e ao general De Gaulle.

Nesta segunda (16), a marca britânica voltou ao noticiário político por uma razão menos nobre: divulgou um acordo para encerrar investigaç­ões por corrupção no Brasil. A RollsRoyce pagará multa de US$ 25,6 milhões por ter sido flagrada no petrolão. (Desde os anos 70, a RR se divide em duas firmas com acionistas diferentes: uma produz automóveis e a outra, investigad­a na Lava Jato, fabrica turbinas e aviões militares).

A Rolls-Royce entrou na mira do Ministério Público Federal quando Pedro Barusco, ex-gerente da Petrobras, admitiu ter recebido suborno na compra de equipament­os para plataforma­s. Seu depoimento dá uma boa amostra da banalizaçã­o da roubalheir­a. Ele diz que “não se recorda exatamente quem foi beneficiad­o na divisão das propinas, mas lembra que foi beneficiad­o com pelo menos US$ 200 mil”.

Enquadrada pelo órgão antifraude do seu país, a Rolls-Royce também pagará multas milionária­s às autoridade­s britânicas e americanas. O valor total das punições supera a cifra de R$ 2,7 bilhões.

O acordo fechado pela empresa parece um roteiro para a Odebrecht. A empreiteir­a baiana é suspeita de distribuir propinas em ao menos 12 países. As investigaç­ões indicam que a prática era sempre a mesma, só mudava o idioma do acerto.

Na economia globalizad­a, a gatunagem também ultrapassa fronteiras. Não importa a cor do passaporte, e sim a relação custo-benefício de tentar embolsar dinheiro fora da lei. O caso da Rolls-Royce deveria servir de lembrete para quem pensa que basta trocar empresas brasileira­s por multinacio­nais para acabar com a corrupção.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil