Folha de S.Paulo

Rolls-Royce pagará R$ 83 mi em acordo com a Lava Jato

Empresa do Reino Unido era acusada de subornar ex-gerente da Petrobras

- MARIO CESAR CARVALHO > > > > > >

Além disso, haverá pagamentos aos EUA e britânicos, num valor global que equivale a R$ 2,6 bilhões DE SÃO PAULO

A Rolls-Royce anunciou nesta segunda-feira (16) em Londres que fechou um acordo com o Ministério Público Federal brasileiro pelo qual pagará uma indenizaçã­o de US$ 25,6 milhões, o equivalent­e a cerca de R$ 83 milhões, para encerrar duas investigaç­ões contra o grupo britânico, ambas ligadas à Operação Lava Jato.

O acordo de leniência, uma espécie de delação de empresas, permitirá que a RollsRoyce continue vendendo para o governo federal.

A empresa, uma das maiores do Reino Unido, fabrica turbinas para gerar eletricida­de, usadas pela Petrobras em plataforma­s de petróleo.

Dois delatores da Lava Jato haviam contado em seus acordos que receberam ou repassaram propina da RollsRoyce para que a empresa conquistas­se contratos na Petrobras: o ex-gerente da estatal Pedro Barusco e o lobista Julio Faerman.

Barusco relatou à Polícia Federal, em novembro de 2014, que recebeu “pelo menos” US$ 200 mil para que a Rolls-Royce fechasse um contrato de US$ 100 milhões.

O contrato citado por Barusco era para o fornecimen­to de módulos de geração de energia para plataforma­s. A Rolls-Royce fabrica dois tipos de turbina: para gerar energia elétrica e para impulsiona­r aviões a jato.

Levantamen­to feito pela antiga CGU (Controlado­ria Geral da União), atual Ministério da Transparên­cia, apontou que os contratos da RollsRoyce com a estatal tinham uma valor muito maior do que o montante citado por Barusco: o negócio com os geradores, fechado em 2011, era de US$ 650 milhões.

O outro delator, Faerman, confessou a procurador­es do Rio de Janeiro, que cuidam

Com o acordo, mediante o pagamento de multa, o grupo garante a suspensão de processos na Justiça

O Reino Unido ficará com o equivalent­e a R$ 1,9 bilhão. Os Estados Unidos terão direito a R$ 550 milhões e o Brasil, a R$ 83 milhões

No Brasil, a Rolls Royce fornecia turbinas, usadas em plataforma­s de petróleo

OUTROS CASOS

Em dezembro, a Odebrecht fechou um acordo conjunto com Brasil, Estados Unidos e Suíça, no qual se compromete­u a pagar até R$ 6,9 bilhões em multas A holandesa SBM Offshore tentou fechar acordo com da Lava Jato naquele Estado, que fez pagamentos ilícitos como representa­nte da RollsRoyce junto à Petrobras.

Faerman era considerad­o um dos maiores lobistas da Petrobras. Além da Rolls-Royce, ele representa­va os interesses da a empresa holandesa SBM, que fornece plataforma­s para a estatal.

Segundo Faerman, a empresa pagou US$ 139 milhões (R$ 450 milhões, pelo câmbio atual) em propina para funcionári­os da estatal para fe- da Petrobras na geração de eletricida­de

A empresa tem divisões de engenharia em variadas áreas, como os setores aeroespaci­al, defesa, engenharia marítima e sistema de energia o Brasil devido a propinas pagas na Petrobras. O compromiss­o, que envolvia um ressarcime­nto bilionário, chegou a ser anunciado no ano passado, porém o Ministério Público Federal anunciou mais tarde que não iria homologá-lo char contratos que somam US$ 27 bilhões (R$ 87,5 bilhões, também em valores correntes).

Barusco e Faerman estão entre os delatores que mais devolveram dinheiro nos acordos de delação que fizeram com os procurador­es da Lava Jato.

No caso de Barusco, o recordista entre os executivos, ele abriu mão de US$ 97 milhões (R$ 314 milhões).

Já Faerman acertou uma indenizaçã­o de US$ 54 mi- lhões (R$ 175 milhões).

A SBM chegou a fechar com procurador­es do Rio um acordo de leniência, no qual se compromete­u a pagar US$ 149,2 milhões à Petrobras e abater outros US$ 179 milhões de um contrato que a estatal deveria lhe pagar nos próximos 14 anos.

O acordo, no entanto, não foi homologado pela Câmara de Combate à Corrupção do Ministério Público Federal. Procurador­es que integram o órgão concluíram que a empresa só citou no acordo fatos que os investigad­ores da Lava Jato já conheciam, não trazendo nenhuma novidade para a apuração.

Uma das premissas dos acordos é que as empresas ou executivos apresentem fatos desconheci­dos pelos investigad­ores da Lava Jato. ACORDO MAIOR O acordo com o Brasil faz parte de um acordo maior que a Rolls-Royce fechou com autoridade­s do Reino Unido e dos Estados Unidos. A multa total será de cerca de 671 milhões de libras, o equivalent­e a R$ 2,6 bilhões. O maior acordo da Lava Jato, com a Odebrecht, prevê o pagamento de R$ 6,8 bilhões com autoridade­s do Brasil, dos Estados Unidos e da Suíça.

O Reino Unido ficou com o maior valor da multa da RollsRoyce (497,3 milhões de libras ou R$ 1,95 bilhão) e o Brasil, com o menor.

Já os Estados Unidos foram contemplad­os com uma indenizaçã­o de cerca de US$ 170 milhões (ou R$ 550 milhões, quando corrigidos pelo câmbio desta segunda (16). Os EUA receberam esse montante porque a Rolls-Royce violou uma lei que proíbe qualquer empresa que atue em território americano de pagar propina no exterior. OUTRO LADO Desde 2015, quando surgiram as primeiras informaçõe­s sobre o suborno pago pela Rolls-Royce, a empresa tem dito que colabora com as investigaç­ões no Brasil, na Inglaterra e nos EUA e que não iria tolerar o pagamento de suborno como método para conquistar contratos.

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Gary Marshall/Divulgação Funcionári­o da Rolls-Royce, empresa que fechou acordo com a Lava Jato, trabalha na fabricação de uma turbina

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