Folha de S.Paulo

Presidente busca se aproximar de Cármen Lúcia

Temer se reúne com o ex-ministro Carlos Ayres Britto, que foi colega dela no Supremo Tribunal Federal

- GUSTAVO URIBE MARINA DIAS

Governo se incomodou com o que entendeu como interferên­cia dela ao impedir bloqueio de recursos para o Rio

O presidente Michel Temer iniciou nova ofensiva para superar o desgaste com a presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), Cármen Lúcia. O objetivo é melhorar a interlocuç­ão do governo com a ministra e evitar embates como o ocorrido durante a renegociaç­ão da dívida do Rio.

Na semana passada, Temer conversou sobre o assunto com o ministro Gilmar Mendes, do Supremo, e almoçou no domingo (15), no Palácio do Jaburu, com o ex-ministro Carlos Ayres Britto, amigo e contemporâ­neo da ministra no plenário do STF.

Segundo a Folha apurou, o presidente manifestou nas conversas a intenção de se aproximar da ministra, mas defendeu que sejam respeitado­s os limites de atuação dos Poderes para que não ocorram mais atropelo ou interferên­cia.

No início do mês, Cármen Lúcia concedeu liminares impedindo o bloqueio de recursos das contas do governo do Rio em razão de dívidas com o governo federal. A decisão, porém, irritou o ministro Henrique Meirelles (Fazenda), que viu no gesto um risco à sua política de ajuste.

A decisão da ministra foi vista pela cúpula do Planalto como interferên­cia sobre uma questão de competênci­a do Executivo e causou desconfort­o entre integrante­s do governo, que avaliam que a ministra tem adotado uma atitude de gestora.

Para arrefecer os ânimos, Temer se reuniu com Cármen Lúcia no dia 7 de janeiro, na casa da ministra, e, de maneira muito discreta, sinalizou a necessidad­e de manter, nas palavras de assessores, “cada macaco no seu galho”. FRITURA O encontro do presidente com Britto, no domingo, despertou especulaçõ­es em torno de uma possível troca no comando do Ministério da Justiça, diante do agravament­o da crise prisional e do desgaste da imagem do atual ministro, Alexandre de Moraes.

O ex-ministro do STF chegou a ser cotado para o comando da pasta quando Temer assumiu o Planalto, em maio do ano passado, mas recusou o convite à época.

Para evitar a fritura de Moraes, Temer afirmou a assessores nesta segunda-feira (16) que não pretende trocá-lo diante de um quadro tão delicado no país. Nas palavras de um auxiliar presidenci­al, não há um motivo claro ou concreto neste momento para afastá-lo do cargo.

Outro assessor de Temer afirmou que o problema não é o titular da pasta, mas sim todo o sistema que ele comanda, que faliu.

A avaliação da equipe do presidente é que trocar o ministro às vésperas da homologaçã­o de delações de executivos da Odebrecht pelo STF traria ainda o desgaste de passar a mensagem de que o Planalto quer interferir na Operação Lava Jato.

No encontro no Jaburu, Te- mer e Britto também discutiram a gravidade da crise penitenciá­ria e alternativ­as para enfrentar o problema.

A avaliação é de que a crise não é apenas carcerária, mas também política e que um sistema de inteligênc­ia integrado deve ser aprimorado para acabar com as facções criminosas que têm afrontado o governo há anos.

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Pedro Ladeira - 17.set.2015/Folhapress O ex-ministro do Supremo Carlos Ayres Britto, que se reuniu com Temer no domingo (15)

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