Volta do crescimento não será voo de galinha
PRESIDENTE DO BRADESCO DIZ QUE ESTE ANO ‘VALERÁ POR DOIS’, COM O INÍCIO DA REAÇÃO DA ECONOMIA NO 2º SEMESTRE
ENVIADA ESPECIAL A DAVOS
Na chegada a Davos para participar do Fórum Econômico Mundial, que começa oficialmente nesta terça-feira (17), Luiz Carlos Trabuco Cappi, presidente do Bradesco, disse que o banco projeta um crescimento de 2,3% do PIB (Produto Interno Bruto) em julho de 2018 em relação a julho deste ano.
“Não será voo de galinha desta vez”, afirma.
O executivo observa que começa a cair o endividamento das empresas, que foi mais forte que o das pessoas físicas, e que há sinais de melhora da economia.
Trabuco, no entanto, faz um alerta: que o governo agilize as concessões em infraestrutura. “É o setor que mais pode gerar emprego para a sociedade brasileira.”
Folha - O banco começa a ver sinal de alguma recuperação da economia? Há recuo da inadimplência?
Luiz Carlos Trabuco Cappi - O sentimento que a gente tem é que, realmente, o pior ficou no passado. Os anos de 2014, 2015 e 2016 foram marcados por recessão séria, que significou uma queda acima de 8% do PIB.
O complemento desse cenário de crise é o número de desempregados, que bateu a marca recorde de quase 13 milhões. Ocorre um ciclo duro de crédito quando o PIB é recessivo e a alta taxa desemprego faz com que a renda média caia, assim como a capacidade de endividamento.
A queda do PIB ao redor de 8% é um fato, mas também é verdadeiro que a renda média do assalariado brasileiro tenha caído acima de 12%, em decorrência do alto desemprego.
O governo Temer tem hoje uma situação melhor do que encontrou quando tomou posse, pois teve balanço de realizações positivo, sem espaço para heterodoxias e inovações. Quando existe deficit público do tamanho do en- frentado pelo Brasil, não se tem alternativa, ou o deficit é coberto ou o crescimento não virá, e, se esse crescimento viesse por medida fantasiosa, seria um voo de galinha, coisa que não acontecerá.
Este é um ano que valerá por dois. No primeiro semestre, colheremos a repercussão do processo recessivo e ainda teremos algumas tensões. Já no segundo semestre, o PIB começará a reagir, uma vez que o sistema produtivo acumulou capacidade ociosa muito grande e poderá começar a irrigar a economia. Qual sua expectativa para as reformas?
A reforma da Previdência está sendo bem encaminhada. E, quanto à trabalhista, não se cogita tirar direitos trabalhistas, mas criar incentivos ao mercado de trabalho. As concessões não estão demorando muito para sair?