O Rio é viável
As saídas para a crise no Estado existem, mas nenhuma delas implica a paralisia ante prognósticos pessimistas
As finanças do Rio chegaram ao lamentável ponto de respirarem por meio de aparatos jurídicos. Não fossem duas liminares concedidas pela presidente do STF, Carmen Lúcia, suspendendo bloqueios de recursos, estaríamos com menos R$ 374 milhões nos cofres públicos para solucionar problemas que parecem insolúveis. Parecem, mas não são.
Se o diagnóstico de crise é verdadeiro, os prognósticos recentes de autoridades e especialistas parecem um tanto ou quanto preguiçosos.
Olhar para o futuro é entender que o Estado do Rio é altamente viável. No entanto, serão necessárias medidas que vão além do pacote de austeridade proposto pelo governador. Vão além também do propagado —mas ainda não concluído— acordo de ajuda da União.
Há três outros tipos de ações que poderiam ajudar a reerguer a economia fluminense —fora, claro, o combate à corrupção.
No primeiro grupo, estão alguns atos discricionários que dependem unicamente do governador. É necessário, por exemplo, reverter uma injustiça com nossa gente que se mantém desde 1988, quando se estipulou que todos os produtos seriam taxados na origem, menos dois: o petróleo e a energia. Em várias ocasiões, tentou-se alterar a regra, sem sucesso. Resta-nos ainda a possibilidade de uma nova negociação com os demais entes da federação.
Quanto a isso, fato que ainda não ficou claro é que o Rio pode, se assim entender, diminuir de forma unilateral o percentual do ICMS tributado sobre petróleo. Isso resultaria em perdas para todos os Estados.
Em vez de tal cenário, no qual dividiríamos o prejuízo, por que não sentarmos para conversar e dividirmos os lucros de forma mais justa, já que o Rio produz quase 90% dos barris do país? O fato de o preço do petróleo ter voltado a subir, sendo vendido hoje a valores próximos de US$ 60, amenizaria queixas. Há um ano, custava US$ 27.
O segundo grupo de medidas é constituído por novas frentes. Uma delas é a possibilidade de o Rio se beneficiar do Fundo Constitucional do Distrito Federal, bancado por brasileiros de todos os Estados e que injeta cerca de R$ 13 bilhões anuais no Distrito Federal.
Em 1960, por conta da transferência da capital federal, previu-se que tanto quem perdesse esse status quanto quem o ganhasse receberiam ajuda da União. Não foi o que aconteceu. Só Brasília conseguiu se beneficiar. Não seria também o caso de, num momento delicado de nossas finanças, o Rio também ter acesso aos recursos? Por que não federalizar nossa segurança pública, como acontece com Brasília?
Por fim, o terceiro grupo: é necessário cancelar medidas dos últimos anos que ajudaram a sangrar esse doente combalido. Só para ficar num exemplo, uma lei aprovada em 2011 permitiu a quitação por meio de precatórios de dívidas ou impostos correntes de empresas com a administração pública. Municípios já tiveram um prejuízo, com a medida, da ordem de R$ 3 bilhões. O próprio Estado, R$ 9 bilhões.
Como se vê, as saídas existem, mas nenhuma delas implica a paralisia ante prognósticos pessimistas. Ou, para ficarmos no nosso caso, não basta ficar sentado na cadeira do Palácio Guanabara esperando a vida melhorar. ANTHONY GAROTINHO, João Doria Começou mal a administração do prefeito de São Paulo, João Doria. Um absurdo a empresa fundada por ele, hoje no comando dos filhos, cobrar de empresários para um “almoço-debate”. Qual a finalidade? Assuntos públicos precisam ser debatidos de portas abertas e sem custo. Pode não ser ilegal, conforme afirma a assessoria do prefeito, mas é no mínimo imoral (“Empresa ligada a Doria pede verba a empresários por palestra de prefeito”, “Cotidiano”, 19/1).
RODRIGO M. VIEIRA
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Apenas 77 alunos, entre 6 milhões, conseguiram nota máxima na redação do Enem, sobre intolerância religiosa. Se esta é inaceitável, também o é o descaso com o ensino e com a aprendizagem de nosso idioma, atestado pela incapacidade de o aluno fazer fluir seu raciocínio e sua linguagem para tratar de um assunto tão presente no cotidiano. A liberdade de expressão é direito fundamental, mas menosprezado quando nossos estudantes pouco ou nada têm a dizer (“MEC divulga notas do Enem e faz consulta sobre prova em um dia só”, “Cotidiano”, 19/1).
MARIA DE LOURDES MANCILHA NUNES MATOS,