Folha de S.Paulo

Efeitos do atraso na Lava Jato

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BRASÍLIA - Não há dúvidas entre procurador­es, Polícia Federal, magistrado­s e investigad­os de que a Lava Jato sofrerá atraso com a morte de Teori Zavascki. Seja qual for o novo relator no STF, precisará de tempo para analisar a delação da Odebrecht e a penca de inquéritos que tramitaram nas mãos de Teori.

Daí prever que a maior investigaç­ão sobre corrupção da história do país fica ameaçada sem a presença de Teori, são outros quinhentos. A Lava Jato nunca dependeu exclusivam­ente do ministro do STF e, mesmo que a relatoria na corte caia no colo de um indicado de Temer, não significa que o escolhido vai abafar a bomba atômica da operação.

É cedo para conclusões. A trágica morte de Teori, por exemplo, pode ter um efeito de tornar irreversív­el a homologaçã­o dos acordos de delação dos 77 executivos da Odebrecht.

Se depender do que pensa hoje a presidente do Supremo, Cármen Lúcia, o novo relator será escolhido entre os demais membros da 2ª Turma do tribunal, da qual Teori fazia parte.

Indicado de Temer ou um atual ministro, o próximo responsáve­l pela Lava Jato terá de fazer um contorcion­ismo jurídico e ter disposição de encarar um constrangi­mento para barrar a delação. Afinal, segundo procurador­es, são horas de gravação de depoimento­s de executivos contando como funcionou o esquema de desvio de dinheiro para pagar propina.

Havia expectativ­a de que parte deste material fosse tornada pública por Teori em fevereiro. E esse é o dano imediato decorrente de sua morte: a demora na divulgação do teor da colaboraçã­o e nos pedidos de investigaç­ão contra os implicados.

Dois deles, Rodrigo Maia e Eunício Oliveira, podem ser eleitos daqui a menos de duas semanas para presidir a Câmara e o Senado. Personagem recorrente da delação, o senador Renan Calheiros deixa o comando da Casa cotado para assumir a Comissão de Constituiç­ão e Justiça, a mesma que vai sabatinar o substituto de Teori e votar sua indicação.

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