Folha de S.Paulo

Alguém fazer justiça com as próprias mãos, né.

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Por causa da “gravidade das coisas” e das “pessoas envolvidas” nas delações da Lava Jato, o ministro Teori Zavascki, 68, andava preocupado. É o que contou à Folha o seu filho mais novo, o advogado Francisco Zavascki, 37.

Teori estava prestes a homologar as 77 delações da Odebrecht, o maior acordo de colaboraçã­o da Lava Jato, quando morreu em um acidente de avião na quinta (19).

As revelações de funcionári­os da construtor­a envolvem figuras importante­s da política nacional, de diversos partidos. O presidente Michel Temer foi citado 43 vezes no relato já divulgado de Cláudio Melo Filho, ex-vice-presidente de Relações Institucio­nais da empreiteir­a.

Antes da queda do avião de Teori, a família já temia pela segurança porque ameaças não eram raras, especialme­nte para os familiares do ministro. Leia trechos da entrevista concedida nesta sexta -feira (20). Folha - Seu pai demonstrav­a estar muito envolvido com o trabalho, por causa da delação da Odebrecht?

Francisco Zavascki - Ele tirou uns dias de férias em que se propôs a não falar de trabalho. Agora já tinha dado por encerradas férias e estava com a cabeça no trabalho, já estava preparando a homologaçã­o. Ele estava preocupado com o resultado? Estava confiante?

O que ele me comentou é que estava muito preocupado pela gravidade das coisas de que ele tinha tido conhecimen­to nas delações e pelas pessoas envolvidas. Ele citava nomes ou te contava detalhes?

Não. Ele sempre foi muito reservado e eu sempre fiz questão de não querer saber muito para quando me perguntass­em, eu não precisasse mentir. Eu não sabia mesmo. Circulou na internet um comentário seu postado em uma rede social dizendo que “se algo acontecess­e a sua família vocês já sabem onde procurar”. Seu pai comentou sobre receber ameaças nesse período?

A gente teve várias coisas assim [ameaças], como mensagem por rede social, e-mail, telefone e tal. De receber ligação, de tudo. As ameaças eram diretament­e para seu pai ou para a família?

Pra gente era mais, especialme­nte. É muito chato. Era uma coisa que realmente preocupava a gente e ele também, pelos interesses todos envolvidos [na Lava Jato]. A gente ficou bastante preocupado. Em 2016, um grupo ligado ao Movimento Brasil Livre (MBL) colocou faixas no prédio do seu pai, chamando-o de traidor, e bateram panelas enquanto o chamavam de “bolivarian­o”. Ele ficou abalado?

Não. Mas a gente ficou preocupado de alguém fazer uma bobagem. Sobre o protesto em si, quer protestar, protesta. Mas as pessoas não entenderam naquele momento o que é que estava sendo realmente decidido. O protesto em si não teve problema. O medo era de Sobre o acidente, o que você acha que aconteceu?

[Suspiro] Não tenho nenhum dado para dizer que não foi acidente. Tem que ser investigad­o, muito seriamente, mesmo. A família está convocando todo mundo a acompanhar, especialme­nte vocês da imprensa que têm um papel fundamenta­l que tem sido exercido ao longo desse período. Convocando todas as instituiçõ­es que puderem colaborar para que não se tenha dúvidas sobre o que aconteceu, seja lá o que aconteceu. A gente não tem “acho isso ou aquilo”. Até porque seria leviano a gente começar a dizer uma coisa ou outra nesse momento.

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