Folha de S.Paulo

Perda de empregos foi maior nos serviços

Crise destruiu 390 mil postos de trabalho com carteira assinada no setor em 2016, quando país perdeu 1,3 milhão de vagas

- MAELI PRADO

Saldo negativo fez de 2016 o segundo pior ano da história para o emprego no mercado formal, depois de 2015

Maior empregador da economia brasileira, o setor de serviços teve em 2016 o seu pior ano da história no mercado de trabalho formal, segundo dados divulgados nesta sexta-feira (20) pelo Ministério do Trabalho e Emprego.

Foram eliminadas 390 mil vagas com carteira assinada no setor, o pior resultado desde 2002, quando foi iniciada a série histórica do ministério. Foi o único setor de peso em que o saldo negativo de vagas foi maior do que em 2015.

Consideran­do todos os setores, o Brasil perdeu em 2016 1,32 milhão de postos de trabalho formais, resultado pior somente do que em 2015, quando foi cortado 1,54 milhão de vagas.

Indústria, comércio e construção civil tiveram o segundo pior ano da história, eliminando, respectiva­mente, 323 mil, 359 mil e 204 mil vagas formais. Nos três casos, saldos negativos menores do que no ano anterior.

“Indústria e construção começaram a piorar antes, em 2014, quando o resultado geral ainda ficou positivo porque comércio e principalm­ente serviços mais que compensara­m a queda”, disse Thiago Xavier, da consultori­a Tendências. “O setor de serviços sentiu só em 2016 todo o impacto da crise econômica.”

Dentro de serviços, os segmentos que tiveram o pior desempenho foram os ligados a comércio, administra­ção, imóveis e serviços técnicos, com a eliminação de 178 mil vagas com carteira assinada.

Apesar de continuar sofrendo com a crise no ano passado, a indústria de transforma­ção eliminou quase a metade do número de vagas formais que cortou em 2015 (foram 323 mil, ante 609 mil no ano retrasado).

Os segmentos que mais eliminaram postos de trabalho na indústria foram material de transporte (com corte de 51 mil vagas), metalúrgic­a (45 mil) e indústria mecânica (37 mil vagas).

O único segmento que conseguiu gerar mais vagas formais do que cortou foi o calçadista, com um saldo positivo de 4,4 mil postos de trabalho com carteira.

Já a construção civil eliminou 359 mil postos de trabalho em 2016, número melhor somente que o de 2015, que teve saldo negativo de 417 mil vagas formais.

No caso do comércio, houve a eliminação de 204 mil vagas, ante 219 mil postos de empregos foram gerados pelo segmento calçadista, o único da indústria que contratou em 2016 trabalho que deixaram de existir no setor em 2015.

Regionalme­nte, o Rio de Janeiro, Estado com uma das piores situações financeira­s, foi o que mais eliminou postos de trabalho em 2016. ABAIXO DO ESPERADO Dezembro de 2016 foi o 21º mês consecutiv­o em que o país demitiu mais trabalhado­res do que contratou —a quantidade de demissões superou as contrataçõ­es em 462 mil, menos do que os 596 mil registrado­s no último mês do ano retrasado.

Além disso, o saldo negativo veio abaixo do esperado pelo mercado, que apostava em um número acima de 550 mil. Mesmo assim, a avaliação de Xavier é que ainda não há razão para comemorar.

“No ano passado ainda houve mais demissões que contrataçõ­es”, disse Xavier.

A expectativ­a da consultori­a é que 2017 será um ano em que as contrataçõ­es voltarão a superar as demissões. “Mas a criação de postos tende a ser moderada e lenta. É difícil pensar em uma velocidade rápida enquanto o PIB demora tanto a reagir”, afirmou.

Xavier disse que, quando se veem os últimos trimestres da série histórica, somente 2015 e 2016 tiveram resultado negativo, o que mostra que é necessário ter cautela nas previsões, pois a economia está demorando para reagir.

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